domingo, 28 de dezembro de 2008

Ajustes Possíveis No FAL Para A Sua Atualização Pela Via da Munição / Uma Munição de 7.62x51mm Spl Subsônica




Num fórum onde predominam militares, alguém deu essa interessante resposta seguinte à proposta deste blog de Uma Atualização Do FAL Pela Via Da Munição:

"O que ele propôs é algo similar ao cartucho padronizado pelo Japão, que usa um modelo embasado no Nato 7,62mm/51 com propelente menos potente, mas as armas são especialmente projetadas para ele.

Pepê"


Bem, se, e apenas se, forem necessárias modificações no projeto das armas por construir, fato que não está provado, já que o FAL opera a pressões muito superiores às necessárias para fazer a arma ciclar, estas seriam modificações ainda assim muito simples.

Uma possibilidade a ser discutida é a oferecida por aquela válvula reguladora de pressão que o fuzil G36 leva no pistão sobre o evento de tomada de gases. Mesmo que o sistema em questão esteja protegido por patente, ainda assim pode servir de base a uma adaptação, sem dúvida. Apenas especulando, vale comentar que essa referida válvula me faz pensar em válvulas reguladoras de escape, por exemplo...

Quanto à idéia da mola recuperadora de dois estágios, que tem estado em debate entre nós na comunidade deste blog no orkut há alguns meses, a resposta que obtive de um engenheiro especialista em construção de armas foi no sentido de que essa providência tornaria, provavelmente, a arma mais sensível ao emprego facultativo de munições com pressões diferentes. Entretanto, o engenheiro considera que o tema mereça testes e pesquisas.

Um propelente de queima mais rápida, garantindo um melhor aproveitamento da expansão dos gases, inclusive em canos curtos, de 11 ou de 13 polegadas, também conflui para garantir um nível ideal de pressão no sistema.

É curioso que quando se fale em reduzir a carga de propelente no interior do estojo, isto preocupe a alguns em uma medida quiçá excessiva, ao passo em que a redução do comprimento cano e conseqüente mudança na posição do evento de gases, que é, de fato, muito mais drástica em relação à pressão interna do sistema na extensão em que é feita, incoerentemente, não cause a ninguém inquietação do mesmo grau.

A chama que é observada se expandindo da boca do cano das armas de fogo corresponde ao desperdício de energia decorrente da queima do propelente já fora do sistema. Os quebra-chamas disfarçam em parte este efeito que, não obstante, é bastante evidente.


Fotos flagrando o grau de desperdício de energia observado nessa arma algo patética que é a pistola Desert Eagle, de fabricação israelense, com a queima do propelente já fora do cano e na base de um metro ou mais de distância da boca:





O aproveitamento incompleto da força de expansão dos gases nas carabinas em 5.56x45mm foi fatídico nos teatros de operações, em tempo recente. Ficou demonstrado na prática que fuzis de assalto não podem ser construídos em 5.56x45mm
e, concomitantemente, dentro das dimensões que se consideram ideais hodiernamente, com canos de 10.5 polegadas, por exemplo.

Em oposição, supõe-se que o calibre 7.62x51mm “standard” possa ser disparado de canos com esse mesmo comprimento sem tanta perda no seu desempenho, e espera-se que o nosso 7.62x51mm -P Spl, liberando poderosos 2.300 / 2.400 joules de energia, aproximadamente, com pontas mais leves que a padrão, de 7.5 / 8.0 gramas, obtenha uma performance semelhante a do calibre 6.8x43mmSPC Remington, o qual foi testado em canos curtos.


Propelentes de Queima Rápida.

Até aqui, falamos sobre a redução da quantidade de propelente nos estojos de 7.62x51mm, sem mencionarmos mudanças na qualidade da pólvora.

Muito poucos entre os nossos colegas aficionados por armas de fogo, no que se incluem os militares, sabem equacionar este fator: qualidade de propelente.

Ora, apenas mantenha-se em mente que a queima mais rápida do propelente evitará o desperdício da força de expansão dos gases usada tanto na propulsão do projétil, quanto para fazer o sistema principal das armas automáticas e semi-automáticas ciclar.

Quanto mais próximo da boca do cano esteja posicionado o evento de gases, maior será o aproveitamento da queima do propelente para gerar pressão no sistema; entretanto, se a queima dos gases ocorre numa parcela muito grande fora do cano, esta providência arquitetônica pode se tornar insuficiente para garantir a pressão necessária sobre o pistão de uma arma operada a gás.

A queima do propelente melhor aproveitada, ou aproveitada quase até o final, quase dentro da sua integralidade, através do uso de uma “pólvora rápida” pode confluir com uma válvula de pressão "inteligente" para nos dar tudo o que queremos: desempenho ideal do projétil e, outrossim, pressão ideal no sistema dentro das novas condições pensadas.



Uma Munição de 7.62x51mm Spl Subsônica

Ao pensarmos uma munição 7.62x51mm -P Spl, nos ocorreu primeiro a redução da massa do projétil para aproveitar a relação peso—energia observada na munição de 6.8x43mmSPC Remington.

Entrementes, falamos também de uma munição 7.62x51mm -P Spl Subsônica no tópico Uma Atualização do FAL Pela Via da Munição. Esta haveria de ter como referência inicial para estudos a SP-6 do VSS-Vintorez.

A SP-6 leva projéteis pesados de 16 gramas. Isto nos remete ao tópico sobre a CT-30 / munições subsônicas pesadas e “lentas”.

Sucede que a saída do projétil pelo bocal acarreta na desobstrução do cano e conseqüente queda total na pressão interna do sistema. Ora, projéteis mais pesados, como o da SP-6, se deslocam a uma velocidade inferior àquela que ocasiona a quebra da dita “barreira do som”: 343 m/2. Ou seja: tais projéteis levam entre três e quatro vezes mais tempo para desobstruir a boca do cano do que aqueles que se deslocam a 900 m/s, por exemplo. Isto acarreta um melhor aproveitamento da energia dos gases, retardando a sua expansão prematura para fora da boca do cano, enquanto a queima total ainda não ocorreu.

Assim, se o peso do projétil está na razão inversa da sua velocidade de deslocamento, está, por outro lado, na razão direta do melhor aproveitamento da pressão de expansão dos gases para a ciclagem do sistema.

A munição 7.62x51mm -P Spl Subsônica pode ser, destarte, a de melhor rendimento geral entre todas as que já idealizamos até aqui, inclusive no que concerne a garantir níveis ideais de pressão dentro do cilindro de gases.

Vale lembrar, para finalizar, que a munição SP-6, como já foi comentado no tópico Uma Atualização do FAL Pela Via da Munição, é capaz de perfurar uma proteção corporal de 6 mm de aço mais 2.8mm de titânio e 30 (trinta) camadas de kevlar a 200 metros e, no emprego antimaterial, transfixar 2 mm de aço a 500 metros.


Abraços e feliz 2009.


..........


FEEDBACK


O engenheiro Paulo Gonçalvez, especialista em construção de armas que integrou a equipe da BERGOM e atualmente é AFTN estimou que a construção de uma nova arma brasileira baseada no FAL, com o maior número possível de peças solidárias
e permutáveis, capaz de disparar em 7.62 OTAN e, facultativamente, em um calibre de 7.62x51mm e potência intermediária, com uma regulagem automática de pressão, custaria em torno de 3.5 USD milhões:

"Pense apenas que seria uma nova arma, um novo projeto, com base no antigo FAL. É um projeto para uns 5/6 meses a um custo de uns 3.5 USD milhões".

Mais tarde, quando eu perguntei se essa estimativa incluia ferramental, complementou:

"Igor,
Esse é um preço "básico" internacional de um projeto de uma arma como essa, com sistema de trancamento.

Calibres alternativos em um mesmo projeto básico tem normalmente seu preço calculado em um acrescimo percentual disso.

É dificil te passar assim por e-mail. São contratos grandes em que se envolve inclusive as patentes, se transferidas, se licenciadas, prazos etc.

Nesse preço está incluído normalmente uma pré-série de umas 10 unidades, já exaustivamente testadas, no caso do Brasil, inclusive com o teste do EB na Restinga de Marambaia.

Nesse tipo de preço nada está incluído de ferramental de fabricação. Entrega-se o projeto, os protótipos, os planos de fabricação e inclui-se assistência técnica e transferência de tecnologia da fabricação da específica arma, com acompanhamento normalmente de 12 meses após a implantação, que, dependendo de onde seja, pode demorar outros 24/36 meses".


Esses investimentos retornam com a venda de algumas dezenas de milhares de unidades.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Submetralhadoras De Última Geração Em Configuração “Bullpup” E Sistema “Blowback”.



Num tópico anterior, abordamos as submetralhadoras de última geração que estão susbstituindo fuzis de assalto por todo o mundo. Mencionamos naquele tópico a HK MP7A1, a B&T MP9 e, para ilustração, o projeto chamado VBR PDW Sidearm. Estas submetralhadoras podem ser levadas no coldre de cinturão, como “sidearms”; operam em regime semi-auto e full auto. Dentro deste sub-grupo, aquelas que usam calibres especiais para perfurar blindagens têm ainda alcance e precisão de fuzis de assalto obtidos através de canos muito curtos e ideias para CQB.

Num tópico seguinte, enfocamos em separado a PP-2000 e a Vityaz PP-19-01, as supersubmetralhadoras russas que já sub-rogaram respectivamente a lendária pistola Makarov e o fuzil de assalto Kalashnikov AKS-74U em 5.45x39mm entre as polícias do seu país de origem. Vimos que, afora a simplicidade e rusticidade dos projetos, o que torna estas armas tão especiais é, realmente, a qualidade das muniçõe 9x19mm 7N31 +P+ e 9x19mm 7N21 +P+, a primeira do tipo “armor piercing”. Essas munições perfuram proteções balísticas e garantem às submetralhadoras russas alcance e precisão de fuzil de assalto no calibre 9x19mm, com muito maior poder de parada que o 4.6x30mm da supracitada MP7A1, ou o 5.7x28mm da FN P90.

Bem, as submetralhadoras JS (Jian She) e aquela que é chamada tão-só de “Tipo 05”, de fabricação chinesa, são também submetralhadoras de última geração e, assim como as russas, operam em sistema “blowback”. É curioso que potências econômicas como a China e a Rússia se preocupem em adotar projetos de armamentos de baixo custo de fabricação – que operam em “blowback” –, enquanto países em desenvolvimento optam freqüentemente pela fabricação de armas básicas caras, e, o que é realmente muito pior, se dignam a importar equipamentos alienígenas sem peças de reposição fabricadas no país importador – um aborto logístico – e por preços que ofendem o bom senso e qualquer noção insipiente que seja de Arte da Guerra.


Submetralhadora "tipo 05" em 5.8x21mm com abafador acoplado.


A JS e a 05 são submetralhadoras em configuração “bullpup” e levam uma tecla de segurança na face posterior do cabo para evitar incidentes de tiro. O defeito básico que o sistema “blowback” apresentava no passado e que consistia no superaquecimento do conjunto câmara—cano ao ponto de ocasionar o fenômeno conhecido como “cook off”, ou ignição “espontânea” da munição, foi corrigido pela incorporação no projeto da operação com ferrolho aberto.

Na versão policial, ou simplesmente mais moderna apresentada pelo site Modern Firearms vê-se uma superfíce vertical de manobra formada por um alongamento da parte dianteira do guarda-mato e a substituição da alça contínua ao frame por trilhos do tipo picatinny para acoplar acessórios.

A submetralhadora “Tipo 05” calça a munição especial no calibre 5.8x21mm DAP92-5.8, com pontas do tipo “armor piercing”. Esta munição apresenta alto poder de penetração e baixo poder de parada, e permite alcance efetivo entre 150 e 200 metros com o cano padrão da arma. Na 05 usam-se carregadores de 50 munições. Já a JS calça o calibre 9x19mm Parabellum, “standard” ou especial, tem um alcance efetivo estimado entre 100 e 150 metros para as munições “standard” e usa carregadores de 30 munições. Os comprimentos de canos que permitem esses alcances estão ainda sonegados de nós. As sub pesam, respectivamente, 2.2 e 2.1 quilos vazias.

O Steyr AUG é um dos poucos rifles de assalto “bullpup” de terceira geração, a qual influência diretamente esta quarta geração de submetralhadoras, que foi visto utilizando munições de 9x19mm Parabellum, não obstante todos os projetos desse período incorporavam uma relativa intercambialidade de calibres prevista já no início das pesquisas que levaram ao seu desenvolvimento.

O Brasil também possui um projeto de submetralhadora / fuzil de assalto em configuração “bullpup” que opera a gás, com trancamento rotativo do ferrolho, e tem no seu desenho inicial essa intercambialidade de calibres prevista com características gerais muito semelhantes às da JS e da “Tipo 05”. Falamos da LAPA FA 03, que leva a assinatura do famoso projetista brasileiro de armas Nelmo Suzano, o qual trabalhava ao lado de uma equipe à altura do seu brilho. O sistema de operação referido é o mais confiável e rústico entre todos aqueles que são usualmente compilados de armas clássicas para dar origem aos novos fuzis de assalto de quarta geração que têm aparecido no mercado, sendo análogo, por exemplo, ao do G36.

O frame do LAPA é construído em material plástico leve. Com o tamanho integral dimensionado para a sua aplicação como fuzil de assalto, a arma media 738mm, com canos de 490mm, e pesava 3.5 quilos vazia. Consultando um membro da extinta equipe da BERGOM, tive ratificada a certeza de que o rifle pode ter cano e culatra reduzidos e calçar, numa versão atualizada do projeto, o calibre 9x19mm, com a possibilidade de usar munições especiais de alto rendimento.


Foto rara da LAPA FA 03 que não pode ser encontrada na internet até esta data, exceto aqui neste blog - clique sobre a imagem para vê-la ampliada:


A LAPA FA 03 tem uma poderosa cadência de 600 tiros/minuto. O gatilho da submetralhadora / fuzil de assalto atua em ação dupla no modo semi-auto e é um dos marcos projeto, tendo raríssimos paralelos na índústria bélica, entre os quais, um projeto da Beretta ainda em fase de protótipo, o ARX-160, - um fuzil de assalto de quinta geração, que apenas peca pelo calibre insólito. O nosso LAPA FA 03 leva, ainda, carregadadores stanag, intercambiáveis com os do M-16.

Ocioso voltar a destacar que uma arma de projeto e fabricação nacionais, com todas as peças de reposição igualmente manufaturadas no País e de alta efiência é o que de melhor se pode desejar para suprir as nossas forças policias, elevando a qualidade da segurança pública nos Estados.

Pelo que eu entendi da curta resposta que recebi de um engenheiro da extinta equipe de projetistas da LAPA FA 03, havia uma versão em “blowback”, de baixos custos de fabricação, no calibre .22LR, pensada para civis, com carregadores de 10 munições, já esboçada. Palavras dele:

A LAPA, por exemplo, tinha base de projeto até para uma versão civil em 22LR, com 10 cartuchos (semiauto) e culatra levinha trabalhando por inércia (blowback).

Abraço” - Paulo Gonçalves


Uma versão desta arma, sobretudo, em “blowback”, no calibre 9mmP, com as dimensões de cano e culatra adaptadas para o emprego contemporâneo em CQB tornaria o projeto comparável em larga medida ao da JS 9mmP, que, por sua vez, tem sido muito exportada pelos chineses.

Assim, a LAPA FA 03 é uma opção atualíssima de arma de assalto, inteiramente viável em termos orçamentários, tecnológicos e logísticos. A arma chegou a ser demandada e adotoda por unidades de forças especiais do EB, mas foram fabricadas e entregues apenas algo em torno de 500 unidades, antes do desaparecimento da empresa responsável.


Boas Entradas.


Fuzil de assalto de 5a. geração Beretta ARX-160, que usa o mesmo
tipo de sistema de gatilho que o nosso visionário LAPA FA 03.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Uma Munição Especial Para o Taurus Judge



O revólver Taurus Judge é uma arma cativante. Fabricado em liga especial de alumínio, com um gatilho levíssimo e mira de fibra ótica, essa arma vem a ser o resultado final de experiências iniciadas durante a Guerra do Vietnã, que, por seu turno, tinham precedentes nas munições de cartuchos de bagos para revólveres usadas nas zonas rurais.

Entretanto, é no Taurus Judge que essa associação do cartucho de caça com a arma de mão de defesa pessoal mais básica e segura que existe, o revólver, encontra um grau de aperfeiçoamento e elegância realmente notáveis. Falta ao projeto, ainda assim, uma munição a sua altura. Mesmo o .410 Magnum usado no BFR (“Biggest, Finest Revolver”), ao meu ver, parece deixar algo a desejar, como uma lacuna: o cartucho ideal ainda foge ao encontro dessa arma que já descobriu seu calibre de excelência. Enfim: falta uma munição especial fabricada no Brasil para o rv. Taurus Judge.






Em CQB, são fundamentais os cartuchos de projéteis múltiplos, e dentro dos rumos atuais dos entreveros em espaços confinados, com homens vestindo blindagens corporais, a munição de flechettes há de ser resgatada e renovada para ter um importante papel a desempenhar ainda. São dominantes entre os cartuchos de projéteis múltiplos na área de defesa pessoal o 12ga e o .410, sendo estes os dois calibres utilizados na espingarda russa Saiga, baseada no AK-47 e, a princípio, semi-automática.

O Judge calça, além do .410, facultativamente, o .45 Colt, um calibre interessante para colecionadores de réplicas funcionais e para quem quiser adquirir os estojos e fazer recargas. Pode ser usada no Judge, ademais, munição .45 ACP com “moonclips”: a Taurus, inclusive, fabrica um clip para o revólver Tracker em .45 ACP, de cinco câmaras, que deve servir para o Judge.

Como eu não conheço munição flechette no calibre .410, mas a CBC fabrica cartuchos com estojo de metal nesse calibre, vamos registrar aqui uma “receita” caseira de recarga especial para o RT Judge baseada nos princípios da munição com projéteis cinéticos em forma de dardos. Veja que delinear essa dita “receita” não significa orientar alguém a utilizá-la hoje; mas quem sabe se algum dia ainda não será necessário que os patriotas brasileiros defendam as suas casas, as suas famílias e o seu País contra invasores estrangeiros, lançando mão de tudo aquilo que puderem encontrar nas suas dispensas e pequenos arsenais domésticos? Ora, todo país do mundo se previne contra esse tipo de risco a sua soberania e, como dizem os “hackers” na sua retórica básica, o conhecimento em si de algo não constitui crime algum. Assim, não experimente esta receita, apenas tome ciência de algo que pode teoricamente ser feito: estamos trabalhando aqui no plano da conjectura.

Bem, os dardos acomodam-se dentro do cartucho de 12ga flechette – que, repetindo, tem o mesmo comprimento do .410, ou seja, três polegadas – uns com as pontas mais perfurantes para fora, outros com essas pontas para dentro, conforme a foto abaixo.



Vamos usar pregos grandes, de duas polegadas e meia. Cortaremos as cabeças dos pregos e mais três quintos das suas hastes com um alicate de corte, reduzindo-os a “kinetic energy penetrators” de uma polegada, ou 2.54cm de comprimento.

Em seguida, juntemo-los, uns com as pontas mais perfurantes voltadas para cima, outros com essas pontas para baixo, fazendo uso de fita isolante para fixar os projéteis nesta posição. Basta uma camada da fita adesiva, ou seja, uma volta completa e mais uns dois milímetros para fechar o anel que irá manter os pregos unidos e bem alinhados e, em seguida, envolva-se o conjunto em papel laminado.

O papel laminado pode envolver o balote de pregos em mais de uma camada até este entrar justo no estojo sobre a bucha e a pólvora. Não há uma regularidade precisa no diâmetro dos pregos de duas polegadas e meia. Faremos a selagem desse nosso balote cinético frangível, dobrando o papel laminado como se dobra o papel de um bombom, depois cortando os excessos e achatando tudo pela fricção das extremidades na bancada. Antes, porém, de selar a segunda extremidade, adicionaremos entre os “penetrators”, para uni-los melhor, um pouco de cola de bastão com uma pistola térmica dessas que se compra nas papelarias. Está pronto o nosso projétil frangível.

Sugiro um propelente de queima rápida para os tamanhos de cano do Taurus Judge; entre as pólvoras nacionais, a 216 da CBC, entre todas as que puderem ser achadas, a AA2 ou qualquer outra similar. Use buchas de fábrica e faça a selagem do cartucho da forma que estiver habituado.

Bem, agora, para finalizar, em homenagem aos nossos vizinhos da América do Norte, terra do inventor do revólver, segundo uma das versões correntes da História do revólver, vamos apenas dar um nome em inglês a esta nossa receita caseira de munição. Tendo em conta a época do ano em que nos achamos e o uso de papel laminado para envolver o núcleo, decidi chamar à receita de “Brazilian's Christmas Turkey” (BCT).

Nas fotos abaixo, 12ga flechette versus gelatina balística. Clique sobre as imagens para vê-las ampliadas.





Quando o balote deixar o cano do Judge incandescente, a fita adesiva no interior da BCT vai -se ter dissolvido por completo junto com a cola de bastão; o papel vai estar se abrindo e os pregos rubros vão estar se separando em um cone de base cada vez mais ampla em direção ao alvo. Dentro do cano, o balote deve-se manter coeso, para que o papel laminado possa evitar dano excessivo à arma. Veja que em canos de alma lisa, como o do Judge vendido no Brasil, é possível usar munição de flechettes sem danificar a arma, coisa que se torna mais difícil na versão do mesmo revólver vendida nos EEUU, com cano raiado.

Opte pelo RT Judge com cano de três polegadas e alma lisa. Eu prefiro o acabamento oxidado fosco e acho que uma boa “red dot” de visor aberto pode cair muito bem na arma.

A certa distância, esses dardos vão começar a girar como facas quando se as atira de ponta. Porém, dentro do raio de dois ou três metros, que é onde uma arma como o Judge se torna realmente mais interessante, permitindo um saque rápido e uma visada instantânea com a margem de inexatidão corrigida pela expansão do balote no ar em diversos projéteis, estes talvez ainda estejam com as pontas viradas diretamente para o alvo ao atingi-lo. Nem sempre se tem espaço disponível para fazer uma empunhadura completa e o tiro de defesa acaba sendo dado de posição contrafeita.

Poderíamos, facultativamente, acomodar os pregos no balote frangível com as extremidades mais perfurantes todas voltadas para frente, mas as extremidades cortadas com alicate de corte também serão bastante perfurantes. Classifico esse balote como frangível inclusive porque, dependendo da distância, pode atingir o alvo ainda coeso e só então se fragmentar. Não há regularidade perfeita em relação à cola e a fita isolante, mas a temperatura de queima do propelente em expansão tende a derreter esses dois componentes instantaneamente.

Uma carga bem “quente”, sem se chegar a absurdos, conferiria uma excelente performance aos dardos. Acho que esta nossa “receita” de munição recarregada caseira, inclusive, pode funcionar até melhor, em certos aspectos, e dentro da sua aplicação, que a munição de fábrica em 12ga flechette que se vê na foto acima. Vamos esperar que a indústria nacional de munições desenvolva cartuchos especiais com flechettes para um revólver Judge tático a ser cogitado.


Feliz Natal.

Mais informações sobre o Taurus Judge em inglês no site Gunblast.



Na foto, outro tipo de flechettes: em lâminas. Essa munição também poderia ter uma análoga caseira confeccionada a partir de gilettes quebradas. A munição SCMITR foi desenvolvida pela AAI Corporation, durante a Guerra do Vietnã:

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Sobre O Nome Do Nosso Blog e Comunidade




O nome deste blog foi retirado da nossa comunidade no orkut, que foi criada anteriormente.

O nome da comunidade, por sua vez, é inspirado no título do livro “Armas e Munições de Caça”, escrito pelo meu tio-avô Christiano Frederico Buys.

Se não me engano, pelo que me lembro de ter ouvido na infância, esse meu tio-avô era médico e irmão mais velho do meu avô. O meu pai gostava muito do livro em questão e eu aprendi muito com o meu pai sobre tudo na vida, inclusive sobre armas e munições.


O meu avô, Frederico Christiano Buys, assim como o meu tio-avô, era gaúcho, além de um atirador realmente lendário.


Foi ele o oficial que, sublevando o seu regimento, no Movimento dos Tenentes, em 1922, sitiou a casa do comandante e tomou a Vila Militar do Rio de Janeiro. Apesar das repercussões mais difíceis desse ato político, explicadas no livro “Os Grandes Julgamentos do Supremo Tribunal Federal”, integrou, mais tarde, a equipe do Adido Militar em França, foi reformado como General, e até vagamente cogitado como "presidenciável" pela imprensa, no mesmo ano em que o Brigadeiro Eduardo Gomes disputou a Presidência do País. Escreveu um livro chamado “Chico Sanhaço”, com prefácio do General Góis Monteiro, que aborda filosoficamente as bases de uma busca sistemática de soluções brasileiras para os problemas nacionais.


Print da contracapa do livro "Arma e Munições de Caça" de C. F. Buys, que, ironicamente, eu não possuo, mas vi que esteve disponível no Mercado Livre. Esse livro é disputado no Sul do País por colecionadores de livros e aficionados por armas e munições.


Já o meu bisavô, Christiano Buys, — pai deste meu mesmo avô e do meu tio-avô Christiano Fredrico Buys, que escreveu o livro “Armas e Munições de Caça”—, foi o oficial do CMS que veio do Sul para o Sudeste, mais precisamente para Salvador, para levantar a sua espada em 1889, quando o Marechal Deodoro levantava a dele, simultaneamente, aqui "na Capital" (o Rio de Janeiro), declarando a instituição da República no Brasil.


Meu bisavô foi um militar bastante homenageado dando nome a vias públicas e etc.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Munições especiais 7.62x51mm AP -P; 7.62x51mm AP plena e 7.62x51mm AP +P+


Antes de mais nada, vamos entender melhor como funcionam munições com sabot.

Sabot é uma palavra de origem francesa que, em projetos de munições especiais que levam núcleos de material muito duro, aço, tungstênio e etc, chamados “penetrators” ou flechettes, designam bases destinadas a preencher o gap – o espaço vazio – entre os referidos núcleos e o raiamento do cano.

Os sabots são construídos, amiúde, em plástico leve ou em alumínio.

Há, pelo menos, três tipos básicos de sabots quanto à forma e funcionamento que podem ser utilizados em munições de fuzis, a saber:

- "Cup sabots" (sabots em concha), são aqueles que suportam o núcleo até a boca do cano, ganhando velocidade e transmitindo o movimento giratório provocado pelas raias ao “penetrator” para, em seguida, separar-se deste, quando encontram a resistência do ar atmosférico;

- Sabots em concha expansivos (“expanding cup sabots”), são aqueles que, exercendo a mesma função dos anteriores, se expandem após deixarem a boca do cano, liberando os núcleos perfurantes;

- "Base sabots", supostamente os melhores e mais caros, são aqueles que possuem uma peça na base, a qual suporta a ponta interna do “penetrator”, e peças separadas que o envolvem lateralmente e atritam com o raiamento, separando-se entre si e liberando o núcleo perfurante após deixarem a boca do cano.

Ilustração mostrando um esquema do funcionamento desses três tipos de sabots:




A munição VBR-Belgium 9mmP AP parece levar um sabot em anel ("ring sabot") que não se separa do “penetrator” antes do impacto contra o alvo. No vídeo de demonstração, vimos os núcleos dessa munição transfixarem coletes de configuração CRISAT e superior junto com o sabot, que só se separou daquele no interior da gelatina, alargando ainda mais a cavidade permanente. Esta conjugação de funções garantiria uma munição de impacto em calibre 9mmP com um núcleo em calibre menor altamente perfurante. O conjunto todo se torna altamente perfurante porque a ponta em aço, que não sofre deformação, abre a cavidade por onde o sabot acaba penetrando também.

Print em que se vê o sabot alojado na gelatina junto dos "penetrators":


Print mostrando como o sabot e o "penetrator" desta munição alojam-se na gelatina, agindo como dois projéteis em um e provocando cavidades permanentes distintas:




Como já havíamos proposto no tópico Uma Atualização do FAL Pela Via Da Munição, a cópia e subseqüente aperfeiçoamento do que já existe de melhor é um método pragmaticamente seguro de se obter êxito em espaços curtos de tempo.

A nossa munição idealizada para o PARAFAL empregado na função de fuzil de assalto, a que chamamos aqui 7.62x51mm AP -P (ou, facultativamente, 7.62x51mm AP Spl) utilizaria, preferencialmente, pontas deste último tipo, a um só tempo altamente perfurantes e com alto poder de parada.

Sobre a redução na carga de propelente dentro do cartucho padrão de 7.62x51mm OTAN, já tecemos considerações a parte no tópico Uma Munição 7.62X51mm -P Spl, de potência intermediária.

Uma segunda versão de cartuchos especiais que advogamos para a atualização do FAL pela via da munição seria o 7.62x51mm AP plena, com o mesmo tipo de ponta aqui discutido e a carga plena do calibre 7.62mm OTAN.

O FAL pode suportar pressões mais elevadas que a da munição “standard”, devendo-se para isto, regular a pressão do sistema na tecla giratória até a posição “GR”, de lançamento de granadas de bocal. Destarte, é possível pensar-se em uma munição 7.62x51mm AP +P+, com a carga de propelente potencializada pela quantidade e/ou pela qualidade. Esta munição, serviria, sobretudo à função “sniper” do FAL e do FAP, aproveitando as características de um sabot do tipo “expanding cup” ou “base sabot”, vistos acima, e ainda um “penetrator” ou flechette alongado para maior dano interno ao alvo. Uma munição com esta configuração teria um alcance muito longo a ser provado, quiçá, próximo ao alcance efetivo do calibre .338 Lapua Magnum "standard" ou até superior - estimativa esta que depende de mais alguma pesquisa bibliográfica para se tornar menos especulativa.


Foto de uma munição AP de rifle com sabot em material plástico do tipo "expanding cup" fabricada pela Remington.



Um diâmetro de “penetrator” a ser considerado nas três variações de munição idealizadas seria 5.56 ou 5.7mm.

Há uma larga gama de estudos já feitos em relação à ação de balas com esse diâmetro em alvos moles e, tanto política quanto financeiramente, não abandonar de todo os projéteis em 5.56mm da OTAN pode ser lucrativo. Teríamos, assim, uma munição conjugada, quase híbrida, com sabots de 7.62mm e núcleos de 5.56mm capazes de serem disparadas da nossa arma básica padrão sem qualquer alteração necessária nesta.

Isto importaria num “upgrade” descomunal para o FAL e para o PARAFAl capaz até de incomodar a todos os que têm interesses financeiros envolvidos na bravata de substituir o nosso primoroso fuzil de assalto/MBR por armas insólitas em 5.56x45mm.

Todavia, este é a proposta consciente de um brasileiro... e não de um vendedor.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A BSM/9 M3 e o Conceito De Atualização De Armamentos



Um ilustre leitor do nosso blog, e quando eu digo ilustre, sem falsa modéstia, quero dizer ilustres mesmo, parece ter entendido da expressão “atualização”, empregada muito amiúde aqui, que nós tivéssemos em mente sugerir uma “recauchutagem” de peças do arsenal já em uso.

Ora, quando se fala em atualização do FAL, por exemplo, não apenas neste blog, mas em outras publicações pela internet, ou na atualização da submetralhadora Ingram MAC-10, que aventei recentemente, está-se falando, com efeito, na atualização dos projetos em si para a construção de novas peças dentro das demandas atuais dos especialistas e com os recursos contemporâneos de fabricação relativos a materiais e maquinário.

Gastar verbas numa “recauchutagem” de peças usadas é algo que, de fato, ainda não tinha me ocorrido.

A dita atualização do FAL pela via da munição dispensa inclusive a troca de qualquer peça das armas já fabricadas ou a fabricar. Armas, como quaisquer objetos mecânicos, têm um tempo limitado de vida útil, certamente.

Uma atualização no projeto da MAC-10 traria como vantagem adicional o fato de já haver alguma quantidade das pistolas-metralhadoras em questão no arsenal do EB e das nossas políciais, pois que já houve instrução para o uso e manutenção destas e muitos militares e policiais brasileiros ainda em serviço já atiraram com tais armas que são, por tanto, familiares às nossas tropas.

Entretanto, há outras possibilidades de atualização de projetos de submetralhadoras em “blowback” a serem considerados.

Uma dessas opções, que chegou a mim por e-mail, diz respeito a um desenho inteiramente nacional, com todas as peças fabricadas no País. Trata-se de uma arma em 9mmP, com três quilos de peso, um cano talvez um pouco longo demais para os parâmetros atuais de CQB, que, não obstante, pode ser encurtado, e uma excelente cadência de fogo: 600 tiros por minuto, exatamente a mesma cadência da super-submetralhadora russa PP-2000, a qual também opera no sistema “blowback”, de baixo custo de fabricação.

Falo da BSM/9 M3. O projeto desta submetralhadora é do final dos anos setenta e foi levado a cabo pela equipe da BERGOM.


Clique sobre a imagem para ver ampliada essa foto rara, que não se encontrava postada na internet até o momento, e poder ler as especificações da arma.



As vantagens de se ter armamentos inteiramente nacionais de dotação são evidentes: armas sem peças de reposição fabricadas no País nunca deveriam ser adotadas pelas FFAA. As forças policias podem até se dar a esse luxo, mas o EB, nunca.

A BSM/9 M3 dispõe de carregadores verticais de 20 e de 32 tiros nos quais podem ser utilizadas novas munições AP em 9mmP. Com trilhos do tipo picatinny sobre a caixa de culatra e sobre o cano, poderiam ser acopladas miras holográficas e outros acessórios a esta arma.

A estrutura onde se encaixa o carregador se estende para baixo, dando conta de ser uma superfície vertical de manobra que dispensa a postura de manopla sob o cano, podendo, ainda, ser revestida com uma peça anatômica para maior ergonomia. A própria culatra alongada e aparentemente cilíndrica já confere um bom apoio para o ombro, dispensando a coronha que se vê na foto. Bastaria, talvez, a colocação de uma outra peça ergonômica, fixa ou regulável ( regulável para não dizer retrátil, porque de curso bem curto), sobre esta culatra para o tiro em modo semi-auto da altura do ombro. O guarda-mão pode igualmente ser suprimido ou tornado mais retilíneo, sendo certo que sob o cano há superfície suficiente para a colocação de outro trilho picatinny, a fim de acoplar uma lanterna.

É fundamental que as submetralhadoras de última geração possam ser levadas num coldre de cinturão e empunhadas com uma só mão, assim como é indispensável que possam atirar facultativamente em regime automático ou intermitente, este último, um predicado que a arma já possui no projeto original.

Com dimensões e peso otimizados, esta pistola-metralhadora nacional é, sem dúvida, mais uma excelente opção a ser avaliada com vistas à renovação sustentável do nosso arsenal pátrio.

ENARM Pentagun




Falando-se em atualizações de projetos de armas para fabricação nacional a custos razoáveis, me vem à mente novamente esta espingarda com tambor de revólver de seis câmaras, no calibre 12ga, — a espantosa ENARM Pentagun.

Quando vi a foto dessa arma, me apaixonei de pronto por ela.

Nas minhas elucubrações despretensiosas, de quem jamais pensou seriamente em trabalhar com projetos de armamento, muitas e muitas vezes sonhei com o que costumo chamar de revólver-rifle (ou rifle-revólver), tendo em conta os “percussion revolving-rifles” da Guerra Civil Norte-Americana, como o Remington Revolving-Rifle, em .44 Colt, uma arma belíssima, extremamente precisa, que incorpora toda a rusticidade do mecanismo do revólver criado por Samuel Colt, este a arma leve possivelmente mais genial desenvolvida pelo homem.


Réplica do Remington Revolving-Rifle, também chamdo de Cattleman’s Carbine, manufaturada pela Uberti.



A espingarda ENARM Pentagun, projetada pelos mestres da BERGOM, Nelmo Suzano, Luiz Gonçalves e Gilson Fontes, os quais constituíram juntos uma das mais criativas equipes de projetistas da História, foi fabricada pela ENARM e chegou a se adotada pelo EB, sobretudo para uso por unidades de forças especiais.

Uma versão para emprego com munição não-letal foi fabricada também pela Química Tupan sob a designação de AM-402.

O pouco que sei sobre a história dessa arma é isto. Por que deixou de ser fabricada em larga escala é algo que me desperta uma curiosidade prevenida já pela perspectiva de explicações frustrantes e pouco convincentes.

O surgimento recente no mercado do Taurus Judge voltou a excitar a minha imaginação em relação às vantagens de um revólver-espingarda em 12ga, visto que este é consensualmente apontado como o melhor calibre para “urban warfare” pelos especialistas, sendo a escopeta, por extensão, a melhor arma, sobretudo, no trabalho policial, quando não há reféns envolvidos. Para a Pentagun poderiam ser fabricados, ainda, “speed-loaders” a fim de que se pudesse remuniciá-la rapidamente.


Foto do Taurus Judge em .45/ .410/ .36ga.




A Pentagun, pelo que a foto mostra, parece levar um tambor invertido: a câmara da vez, alinhada com o cano, parece ser aquela que fica posicionada na parte inferior da arma, logo acima do gatilho. Há uma alça sobre o cano e a coronha é fixa. À semelhança do fuzil de assalto LAPA FA 03, cujo desenho é atribuído também ao famoso projetista brasileiro Nelmo Suzano, a espingarda parece ter o chassis em material sintético leve e, quiçá, barato.

Para uso em CQB conforme com as demandas atuais, eu recomendaria como munição ideal a ser empregada nesta arma estupenda cartuchos de 12ga flechette.


Foto da ENARM Pentagun, de seis câmaras, em 12ga.



Inteiramente nacional, com a possibilidade de fabricação no País de todas as peças de reposição, não seria este também um excelente projeto a ser retomado pela indústria brasileira de armamentos, de modo a suprir carências do arsenal pátrio dentro de perspectivas viáveis?

Ficam expostas aqui estas indagações, à espera de um “feedback” que autorize maiores especulações a respeito do assunto.






Uma Munição 7.62X51mm -P Spl, de potência intermediária.



O projeto de uma munição de potência intermediária e recuo controlável em rajadas com as mesmas dimensões da munição padrão do FAL e do PARAFAL é plenamente viável, extremamente simples e pouquíssimo oneroso - ou de custos despresíveis.

Entretanto, o seu desenvolvimento e aplicação simplesmente pode mudar a nossa arma básica de categoria numa questão de segundos: um carregador cheio com essas munições de potência intermediária acoplado ao PARAFAL fá-lo-ia passar de MBR a fuzil de assalto; permutando-se novamente os carregadores para emprego da munição 7.62x51mm “standard”, ter-se-ia de novo, no FAL o melhor MBR da História.

Ora, que parâmetros iniciais deveriam ser seguidos para se obter esse cartucho "milagroso" e essa atualização plena do FAL e do PARAFAL pela via da munição, sem qualquer modificação necessária da arma?

Vamos dividir esta questão em partes; falemos primeiro sobre o projétil e, em seguida, sobre a carga de propelente.


O PROJÉTIL.

A munição M43 de 7.62x39mm do fuzil de assalto AK-47, de potência intermediária, leva projéteis de 7.90 mm (0.311 polegadas) de diâmetro e 8.0 gramas (123 granis) de massa, sendo essas balas do tipo Spitzer.

O calibre 7.62mm OTAN leva pontas de 7.82 mm (0.308 polegadas) de diâmetro, diâmetro este que é de fato menor que o da M43, embora a nomenclatura usada para ambas as balas seja a mesma: 7.62mm. A massa da nossa munição padrão é de 9.50 gramas (146.6 granis).

Como não pretendemos, porque seria desastrosamente ilógico, trocar os canos do FAL e do PARAFAL, bem como seus carregadores, podemos tomar como base inicial para o desenvolvimento do projétil da nossa munição 7.62X51mm -P Spl a bala da munição M43 do AK.

Feitas as adaptações pertinentes ao diâmetro do projétil, haverá já, por força, uma redução de massa – já que a ponta do AK é ligeiramente mais larga. Reduza-se ainda um pouco mais o peso do projétil para chegar ao patamar de 7.5 gramas equivalente ao da munição de 6.8x43mm SPC Remington e teremos atingido quiçá o resultado ideal.


A CARGA.

A carga de propelente no interior do cartucho padrão da munição 7.62mm OTAN do FAL deve ser reduzida até que se obtenha uma liberação de energia tanto mais próxima quanto possível daquela observada na munição 6.8x43mm SPC Remington, ou seja, 2,385 joules.

A massa de 7.5 gramas em relação à energia de 2,385 joules foi amplamente estudada em seus efeitos em tempo muito recente pelos norte-americanos, sob demanda dos militares de forças especiais daquele país, após a guerra do Afeganistão, de modo a obter o que eles consideraram ser a munição de potência intermediária ideal para fuzis de assalto, visando inicialmente a substituir o 5.56x45mm.

Surgiram, então, os problemas políticos, logísticos e financeiros pertinentes a essa substituição, o que irá embargá-la por bom tempo.

Nós, entretanto, podemos "driblar" esses problemas de ordem política, logística e financeira empregando a mesma proficiência dessa relação peso – energia num projétil de dimensões semelhantes às do projétil do incomensuravelmente exitoso calibre 7.62x39mm.

A munição M43 de 7.62x39mm do fuzil de assalto AK-47 libera 2,010 joules de energia sobre uma ponta de 8.0 gramas; ora, fazer com que um projétil semelhante àquele, apenas meia grama mais leve, receba uma propulsão maior, de cerca de 2,385 joules não irá acarretar perda alguma de desempenho, muito pelo contrário.

Se mantivermos a massa de 8.0 gramas – idêntica à do calibre 7.62x39mm – nesse nosso novo projétil da idealizada munição 7.62X51mm -P Spl, já teremos nela uma M43 potencializada; se reduzirmos a massa da bala até o patamar de 7.5 gramas, manteremos a relação peso – energia no exato mesmo padrão do calibre 6.8x43mm SPC Remington. Portanto, estamos falando aqui em padrões de excelência absoluta para munições de potência intermediária de rifles de assalto.

A esta excelência, conjugar-se-á possibilidade de permuta na mesma arma do calibre de potência plena 7.62x51mm “standard”.

Isso feito sem gastos em pesquisas para a construção ou aquisição de novas armas, significa uma atualização do FAL pela via da munição absolutamente racional e tão arrasadoramente proficiente que poderia interromper o programa de desenvolvimento do MD97L e afins de imediato, sem qualquer perda e sem sombra de dúvidas.

Não obstante, soluções empregadas no MD97L podem servir para uma discreta atualização do FAL e do PARAFAL no que concerne sobretudo à redução do peso da base, atualizações estas sobre que já falamos no tópico Uma Atualização do FAL Pela Via da Munição e que a DAS Inc., já concretiza, há algum tempo.


QUESTÕES PERTINENTES À PRESSÃO DO SISTEMA.

O FAL trabalha com pressões bem superiores àquela que se faz necessária para levar a arma a ciclar.

O ajuste de pressão pela tecla giratória do fuzil comporta três posições, conforme este trecho de artigo do especialista brasileiro em armas leves Alexandre Beraldi:

"O sistema de funcionamento [do G36], como já dito, é por tomada de gases, movimentando um pequeno êmbolo com um curso de deslocamento bem curto, o qual impulsiona o transportador do ferrolho, que é solidário a uma alavanca de manejo ambidestra, o qual movimenta a cabeça de trancamento rotativa dotada de sete ressaltos de trancamento. Uma peculiaridade do sistema de tomada de gases é que, logo acima do evento de tomada de gases, há uma válvula de controle de pressão que permite o funcionamento da arma independentemente da energia do propelente e das condições de limpeza do cilindro onde se aloja o êmbolo de gases, permitindo a expulsão de resíduos de pólvora ou outros corpos estranhos que porventura venham a adentrar no mecanismo, tais como água, areia, poeira, etc. Este sistema elimina o botão giratório de regulagem do sistema de gases presente no nosso conhecido FAL, que possui a posição “1”, para pouca pressão no sistema, sendo recomendado o uso com a arma limpa, posição “2”, para mais pressão e uso com a arma com pouca manutenção, e posição “GR”, para lançamento de granada de bocal. Além disso, o nosso complicado FAL tem um anel de regulagem de pressão, logo atrás da massa de mira, que serve para regular um funcionamento mais suave da arma de acordo com a carga de propelente utilizada na munição. Não é preciso nem dizer que nossos soldados conscritos não aprendem como se fazem estas regulagens (a não ser aquela do botão 1-2-GR) e que muitos dos instrutores não têm a mínima noção de para que serve o anel de regulagem de pressão. O H&K G36, sendo mais simples e eficiente, substituiu este complexo sistema por uma válvula de projeto simples, que faz tudo sem intervenção humana, permitindo, inclusive, o lançamento de granadas de bocal".

O ufanismo do especialista em relação ao G36 pode ser posto entre parênteses aqui: aquele fuzil em 5.56mm, não obstante moderno, não se compara ao PARAFAL, atualizado pela via da munição, como rifle de assalto, já porque o calibre 5.56x45mm, segundo o próprio Beraldi inclusive, fracassou nos teatros de operação em combates contemporâneos e não se adapta à armas mais curtas; já porque a legendária confiabilidade do FAL não pode ser posta em cheque diante do simples surgimento de armas ainda não passadas em julgado nos campos de batalha.

O rifle semi-automático de configuração “bullpup” e extração frontal Kel-tec RFB Carbine, em 7.62x51mm, apresentado ao público em 2008, leva várias soluções do FAL, inclusive o sistema manual de regulagem de pressão, além de usar os carregadores do nosso fuzil padrão.


Foto do rifle semi-automático Kel-tec RFB Carbine confrontado com um PARAFAL.




Saber usar bem a nossa arma básica, inclusive regulando a sua pressão adequadamente, é questão de treinamento e não algo a ser questionado em relação ao equipamento em si.

O elemento humano ainda sobrepuja muitas soluções mecânicas “inteligentes” (autoajustáveis) e é com o aprimoramento desse elemento, somado à abordagem racional dos nossos problemas, que atingiremos as metas concernentes ao desenvolvimento amplo do País em todas as esferas. Antes de importarmos o que quer que seja, pensemos em usar da melhor forma possível todo o imenso potencial humano e material de que dispomos.

Para fins comerciais, a expressão 7.62X51mm -P Spl aqui empregada talvez não fosse a mais profícua: utilizamo-la apenas para fins de clareza dentro desta exposição. Para fins comerciais, talvez valesse mais chamar esta munição apenas de 7.62X51mm Spl, onde "Spl" significaria apenas "especial" (ou "special").

domingo, 14 de dezembro de 2008

Uma munição de 5.56x51mm AP: Ressuscitando o Projétil de 5.56mm


O que torna o calibre 5.56x45mm inóquo nos dias de hoje não é tanto o seu projétil, de apenas 4 gramas de massa, mas principalmente a dificuldade de se ter uma arma para CQB de dimensões razoáveis, nos moldes do que os especialistas têm considerado necessário na atualidade, quando a munição em questão requer passos de 7 e 9 polegadas. Os rifles de assalto mais compactos, como a M4A1 Commando, por outro lado, não podem ter canos de mais de 10.5 polegadas e, com esse comprimento de cano e passos de 9 polegadas, os projéteis não ganham pressão suficiente para terem sequer o seu em si já polêmico desempenho normal completo.

Eis um problema impossível de equacionar dentro dos cartuchos da munição SS-109, de 45mm de comprimento por 9.58 mm de diâmetro na base. Por conta disso, há um retorno às submetralhadoras no calibre 9mmP em várias partes do mundo: estas tem dimensões mais compactas e calçam, na sua maioria, munições com maior poder de parada do tipo “armor piercing”, exceção feita à MP7A1, que usa a munição 4.6x30mm, com menos “stopping power”, porém imenso poder de perfuração. Estas armas superam em tudo os rifles compactos em 5.56x45mm para CQB.

Restam os rifles com maior comprimento de cano e com maior alcance neste calibre. Entretanto, quando se queira rifles mais longos e de maior alcance para entreveros a longa distância, são novamente os fuzis de potência plena, em 7.62x51mm, que se empregam e já não mais os outrora considerados polivalentes fuzis em 5.56x45mm.

Nós, porém, temos uma idéia para “ressuscitar” o projétil de 5.56mm, se bem que este passará a ser empregado numa arma que não faz parte da família AR-15/M-16/M4.

Falo de um rifle que dispensa a colocação de preservativos sobre a boca do cano em dias de chuva ou umidade intensa; pelo contrário, pode ser submerso em água, coberto de lama ou areia e continuar operando.

Falo sim, com certeza, do nosso proficiente FAL, arma básica das FFAA brasileiras.

Para tornar possível esta empresa, de disparar balas de 5.56mm do FAL, não iremos pensar em reconstruir ou modificar drasticamente essa arma legendária, mas apenas em mudar o seu cano, com um mínimo de alterações no "upper", utilizando-nos, de preferência, de um sistema de encaixe modular. Esses sistemas são utilizados nos ditos “canos de troca rápida” como os do FN SCAR e do rifle “sniper” PGM Ultima Ratio, só para citar dois exemplos dignos de nota.


No vídeo abaixo, um militar demonstra como funciona o sistema de troca rápida de canos do fuzil PGM Ultima Ratio Commando II, permutando calibres inclusive, em aproximadamente 35 segundos.


Com um sistema de troca rápida incorporado à base do cano do nosso FAL, ou melhor ainda, do nosso FAP, troquemos agora o cano padrão da arma por um outro cano construído dentro dos ditames de precisão da FI (Fábrica de Itajubá), com martelamento a frio, porém usemos raiamento e passos de sete polegadas calibrados para estabilizar e conferir pressão ideal a um projétil de 5.56mm.

Ainda uma vez, a base deste conceito será a adaptação da munição à arma e não o inverso, na medida do possível.

Modifiquemos, pois, um cartucho “standard” de 7.62x51mm de modo que o diâmetro da base do estojo continue medindo 11.94 mm e apenas o "neck" se vá estreitando para medir 6.43 mm (como o da munição SS-109) de forma a caber uma ponta de 5.56mm.

Essa munição vai passar a se chamar aqui MX-Brazilian 5.56x51mm, conservando exatamente o mesmo comprimento e diâmetro de base do 7.62x51mm. Apenas a ponta em si foi alterada e as dimensões do “neck” que a sustenta. Há talvez até mais espaço no estojo para acomodar o propelente, pois que a ponta é menor em diâmetro e comprimento, mas também não vamos mexer, por ora, na quantidade ou na qualidade do propelente. Vamos manter o nível de energia liberada no “default”: 3,352 joules. Acredito que o poder de perfuração da bala de 5.56mm seja bastante potencializado com essa liberação de energia que a tornará ainda mais veloz e precisa.

É tempo de relembrar, sem entrar em detalhes aqui, os estudos do Dr. Martin Fackler sobre os efeitos que um projétil neste diâmetro teria em um alvo mole quando utilizando a carga padrão da munição SS-109, que libera 1,767 joules, para sopesarmos o que essa mesma ponta pode fazer quando propelida com a carga plena do calibre 7.62x51mm, que libera 3,352 joules. Segundo Fackler, o projétil de 5.56mm causaria cavidades temporárias muito amplas e letais...

Ora, permutando-se os canos de troca rápida, têm-se novamente um FAP capaz de disparar com a munição 7.62x51mm “standard”; nada foi alterado no “upper”, apenas o cano foi trocado. Mesmo a regulagem da pressão sobre o êmbolo de gases persistirá a mesma.

Cumpre, finalmente, fazer a experiência de disparar os projéteis do nosso 5.56x51mm de canos curtos, quiçá, tão curtos quanto o da M4A1 Commando, 10.5 polegadas, ou um pouco maiores, 13 polegadas, como o da arma que é símbolo do nosso blog, um PARAFAL customizado pela DSA Inc. Deixo essa parte a quem de direito.

Só a experiência concreta poderia demonstrar os efeitos dessa munição idealizada aqui por simples hobbie e, ainda, se os níveis de energia — e quantidades de propelente —, podem ser reduzidos até parâmetros semelhantes aos do calibre 6.8x43mm SPC, por exemplo - 2,385 joules - de modo a que se tenha rajadas mais controláveis nesse nosso MX-Brazilian 5.56x51mm. A meu ver, para que um calibre como este se torne realmente justificável, faltaria ainda levar pontas do tipo “armor piercing” e com núcleos em aço alongados, que garantem, segundo experiências recentes, além de um alto poder de penetração, também um excelente “stopping power”.

A munição M995, de 5.56x45mm, fabricada pelos estadunidenses, com núcleo de tungstênio — material bastante caro — , é capaz de transfixar uma blindagem de aço de 12mm a 100 metros. A M993, de 7.62x51mm, dá conta de perfurar uma blindagem de 15mm de aço a 300 metros. Essa nossa MX Brazilian 5.56x51mm AP conjugaria as vantagens de uma e de outra para os empregos antimaterial e antipessoal a longas distâncias, e, com menos carga de propelente, para o emprego antipessoal em CQB, sobretudo contra blindagens corporais.

O vídeo abaixo mostra o procedimento para a permuta dos canos de troca rápida do FN SCAR para fins de adequação à tarefas específicas.


.............

EM APÊNDICE.

Para se ter um fuzil de fabricação nacional no calibre 5.56mm OTAN, com todas as peças de reposição manufaturadas no País, muito esforço mental tem sido despendido nas últimas três décadas e somas importantes de recursos têm sido gastas em pesquisas que ainda não chegaram a um resultado ideal.

Passo a transcrever um trecho de artigo do especialista em armas leves Alexandre Beraldi para o site Defesa Net em que é abordado o histórico do calibre 5.56mm OTAN no Brasil.


O calibre 5,56 no Exército Brasileiro

O início dos estudos que resultaram na adoção do calibre 5,56x45 mm pelo Exército Brasileiro remonta ao começo dos anos 80 e, assim como a evolução do armamento leve na Força Terrestre, está intimamente ligado à história da Fábrica de Itajubá (FI).

O objetivo, à época, era a obtenção de uma arma de concepção original, tanto quanto possível, e que guardasse analogias, notadamente de desempenho, com as similares estrangeiras de mesmo calibre. As dificuldades encontradas nos anos de 1981 e 1982 para a concretização de um protótipo fizeram com que o objetivo original do projeto fosse reavaliado em 1983. Essa decisão deu origem ao Fuzil 5,56 IMBEL MD1. O projeto desse fuzil previa uma caixa da culatra e carregador novos. Sua produção demandaria investimentos em processos, dispositivos, ferramentas e calibres, e o retorno do investimento estaria assegurado com um lote mínimo de 10.000 unidades comercializadas, meta improvável para aquela conjuntura.

A homologação dos Objetivos Básicos Operacionais (OBO) 39/86 foi decisiva para a definição de novo rumo. A previsão do Estado-Maior do Exército (EME) era dotar, inicialmente, apenas o Batalhão de Forças Especiais, que contava com 561 homens. Como a demanda prevista não justificava o desenvolvimento de projeto de uma arma nova, a FI optou por um fuzil que aproveitasse os carregadores do M16 e o máximo de peças e processos de fabricação do FAL, incluindo a caixa da culatra.

Dessa forma, em tempo relativamente curto, surgiram os modelos MD2 e MD3 – solução economicamente viável mas não ideal do ponto de vista técnico e operacional. O modelo MD2 era muito pesado se comparado aos outros fuzis de mesmo calibre. O protótipo, com a coronha rebatível, foi submetido à avaliação técnica no Campo de Provas da Marambaia como Material de Emprego Militar (MEM) tipo “E”, e seu desempenho foi considerado satisfatório. Apesar de nenhum dos protótipos ter sido submetido à avaliação operacional, o modelo MD2 passou a ser adotado por algumas Unidades do Exército e por diversas polícias. Para o mercado externo, continua sendo comercializado até os dias de hoje.

Em 1995, o EME reviu os Objetivos Básicos Operacionais para o Fuzil 5,56. Surgiu, daí, uma expectativa de demanda de um fuzil com diversas características não atendidas pela maioria das armas disponíveis no mercado internacional, incluindo o modelo IMBEL MD2 (ver Tabela 1). Na ocasião, os objetivos principais eram: desenvolver uma arma dentro dos limites de peso (3,8 kg) e inserir o mecanismo de rajada controlada (três tiros), colocando o protótipo com características próximas às de seus concorrentes.

Em dezembro de 1996, a FI solicitou ao Centro Tecnológico do Exército (CTEx) a avaliação técnica dos protótipos IMBEL. Esses protótipos não atingiram todos os requisitos absolutos, pois os Requisitos Técnicos
Básicos (RTB) do projeto só foram homologados em setembro de 1997 com a Avaliação Técnica (AVALTEC) já em curso.

Em novembro do mesmo ano, a FI apresentou novos protótipos em conformidade com os requisitos absolutos e com algumas modificações de caráter operacional sugeridas pelo Centro de Instrução de Guerra na Selva, que realizou uma avaliação preliminar de alguns protótipos. A AVALTEC foi reiniciada com a nova arma, mas, em junho de 1999, as provas foram interrompidas, dada a inexistência de critérios objetivos para avaliação de alguns requisitos. Esse fato levou o CTEx a decidir pela interrupção da prova para revisão dos RTB.

O período decorrido até a homologação dos novos requisitos permitiu à FI conduzir diversos testes e introduzir mudanças maiores, baseadas nas ocorrências e observações colhidas durante as avaliações anteriores, em uma avaliação operacional realizada pela Força Aérea Brasileira com 30 protótipos e em diversas sugestões de usuários e colaboradores. O resultado permitiu ao Fz 5,56 MD97L atingir todos os requisitos absolutos e a grande maioria dos requisitos desejáveis e complementares estabelecidos pelo EME.

O Fuzil 5,56 MD97L

Para conhecermos o Fuzil 5,56 MD97L, vale detalhar um pouco mais o fato que impediu o aproveitamento do projeto do FAL. O FAL possui um sistema de trancamento por ferrolho basculante, que vincula seu trancamento à estrutura da arma. Dessa forma, essa estrutura tem que ser construída num material que suporte os esforços exercidos no momento do disparo. A maioria dos demais projetos de fuzis automáticos no calibre 5,56x45mm utiliza sistema de trancamento por ferrolho rotativo, que se tranca diretamente no cano feito em aço. A caixa da culatra, nesse modelo, passa a ser apenas a estrutura que abriga e relaciona os sistemas de alimentação, trancamento, disparo e extração/ejeção da arma. Pode, conseqüentemente, ser fabricada com materiais mais leves e menos resistentes que o aço, visto serem menores as forças ali exercidas.



Seguindo a tendência dos demais fabricantes, a equipe de projetistas da IMBEL desenvolveu projeto de ferrolho rotativo com trancamento diretamente no cano, montado sobre uma caixa da culatra feita em liga especial de alumínio.

Os fuzis e carabinas 5,56 IMBEL MD97 são armas que funcionam por ação da força expansiva dos gases resultantes da queima da carga de projeção. Para o aproveitamento de tal força, que irá atuar no destrancamento do ferrolho, existe uma tomada de gases no terço médio do cano. Um diferencial importante é que, diferentemente de alguns fuzis, em que parte dos gases é conduzida por um tubo até uma câmara no interior do ferrolho, nos fuzis IMBEL os gases atuam sobre um êmbolo situado próximo à tomada de gases. Esse fato evita o acúmulo de resíduos provenientes da queima dos gases propelentes na crítica região do ferrolho.

A posição do sistema de gases acima da linha geral da arma permitiu, ainda, manter o centro de gravidade sobre o eixo longitudinal do fuzil. Tal fato, aliado ao dimensionamento do sistema de trancamento, permite que o destrancamento e a abertura da arma, durante o ciclo de funcionamento, só se dê após o projétil ter ultrapassado a boca da arma. Dessa forma, a precisão do tiro não é comprometida pelo deslocamento de massas, como ocorre em algumas armas automáticas.

Seu funcionamento, conforme a versão, pode ser de repetição, para o lançamento de granada de bocal; semi-automático, para a realização do tiro intermitente; ou automático, para rajadas controladas de três tiros ou tiro contínuo. O tiro pode ser realizado com a coronha na posição normal ou rebatida.

O cano, fabricado pelo processo de martelamento a frio, possui alma raiada recoberta com uma camada de cromo duro, a fim de aumentar a sua vida útil e facilitar a limpeza interna. O passo de raiamento de 1:10" (1:254 mm) segue a tendência atual de se ter passos intermediários entre 1:12" e 1:7". Esse valor intermediário é a melhor solução para que os projéteis mais pesados se estabilizem, sendo, ainda, bastante adequada aos mais leves. Dessa forma, o MD 97 tem uma balística externa e terminal adequada, independentemente do tipo de munição utilizada.

A alimentação faz-se por intermédio de carregadores com interface STANAG (compatível com os carregadores Colt M16A2), com capacidade para 30 cartuchos. Em cada avanço do ferrolho, é carregado um cartucho e, durante o recuo, ele é extraído e ejetado da arma. Tais operações se repetem enquanto houver cartuchos no carregador. Uma vez esvaziado o carregador, o ferrolho é mantido à retaguarda pelo retém do ferrolho, indicando que o usuário deve realimentar a arma. A opção de fornecer os carregadores também em aço confere maior durabilidade e confiabilidade se comparado aos de outros fabricantes, que adotam somente a opção em alumínio.

Seguindo uma tendência mundial, buscou-se o desenvolvimento de variantes do modelo original, como, por exemplo, as carabinas 5,56 IMBEL MD97. Como a própria nomenclatura indica, trata-se de versão “cano curto” do fuzil 5,56 MD97L. Assim como o fuzil MD97L, as carabinas MD97 também foram avaliadas e aprovadas. Apresentada nas versões semi-automática (modelo LC) e com rajada de três tiros (modelo LM), possui dimensões e peso reduzidos. Suas características são ideais para emprego por tropas especiais e para o trabalho policial. Nesse contexto, a Secretaria Nacional de Segurança Pública elegeu o modelo MD97LM para o treinamento da recém-constituída Força Nacional de Segurança Pública.

De uma maneira geral, no modelo MD97 foram adotadas diversas soluções já existentes, inclusive algumas do próprio FAL 7,62. Outras, como o sistema de rajadas curtas, constituem projetos inéditos que podem, também, ser adotadas para o FAL.

.....

Desmerecer todo esse esforço por parte dos nossos técnicos, diante de todas as dificuldades materiais de fundo político encontradas, é algo que nós não faremos em nenhuma hipótese.

Entrementes, pode-se ter um FAL e um PARAFAL livre de “bugs” e capazes de disparar projéteis de 5.56mm de diâmetro e, facultativamente, calçar a munição 7.62x51mm padrão, mediante a simples troca de canos modulares, sem que se venha a mexer no “upper receiver” ou nos carregadores da nossa arma básica. Para tanto, basta que se busque adaptar a munição à arma, mais do que a arma à munição.