quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Um “joguinho” para o RT .36 ga “Judge”



O revólver Taurus Judge é uma arma incomum que soa versátil e imponente, mas poucos sabem o que fazer com essa vesatilidade tática.

Pensei no “jogo” que se segue, após ter visto, através de vídeos, o grande mestre da arte marcial russa Systema Vladimir Vasiliev empregar a tática de dar rolamento para trás e ir para o chão com a sua arma, mantendo a empunhadura dupla, a fim de se livrar de dois agressores com armas brancas que se acercavam dele. E, quando mencionei o expediente por alto pela primeira vez, em uma comunidade do Orkut, o nosso amigo agente federal "Mr." apareceu para comentar que já havia praticado o tiro com as costas apoiadas sobre o solo, durante o seu treinamento na Polícia Rodoviária Federal "Mr." foi da PRF antes de entrar para a PF.

O chumbo 3T para defesa tem defensores há muito tempo, mas há também quem o contra-indique com propriedade em razão do baixo poder de parada (“stopping power”) observado. Entrementes, o potencial de parar de uma munição pode ser entendido de forma mais ampla que apenas em relação aos efeitos dinâmicos, ou temporários, do disparo. Tiros de chumbo 3T que atinjam frontes têm uma grande probabilidade de perfurar olhos, incapacitando de pronto, e é muito fácil acertar, a distâncias defensivas típicas, a fronte de um agressor armado com esse tipo de munição.

Destarte, o nosso pequeno “caminho”, realmente muito simples, começa, com a utilização da munição de .36 ga chumbo 3T nas duas primeiras câmaras ou em todo o tambor, sendo que policiais têm licença para utilizar, facultativamente, o .44-40 Win, calibre com excelente poder de parada, nas três últimas câmaras.

Quando o agressor esteja muito próximo, exibindo arma branca ou de fogo e, não atenda ao comando para se imobilizar e largar a arma, em se observando, por exemplo, que está sob efeito de alucinógenos, este pode ser alvejado na fronte como última medida, devendo o legítimo defendente, em seguida ao disparo ou disparos, rolar para trás, de modo a sair da linha de tiro ou do alcance da faca do alvejado. O Judge com cano de alma lisa, por apresentar recuo reduzido, permite a utilização de uma seqüência de dois tiros rápidos, quase um “double tap”, contra a fronte do agressor antes da evasão, mesmo que se tenha uma munição de projéteis múltiplos e outra de projétil singular na câmara da vez e na seguinte. Ao rolar para trás, prepare-se a guarda com as pernas para parar uma possível investida às cegas por parte do agressor alvejado; se este vier direto para a guarda, será o momento de se o travar, pondo um “ganchinho” na sua virilha, e o derrubar –- ou "raspar" –- puxando o seu calcanhar. Pode-se, então, partir para a montada, de modo a imobilizá-lo, ou deixar um agressor que ainda esteja com a faca nas mãos cair sozinho para o render. Observe-se que aqui se tem inúmeras opções: por exemplo, um agressor difícil de "raspar", mesmo depois de alvejado na fronte, pode ser facilmente atingido na sua genitália com um pisão de baixo para cima antes de ser derrubado, ou mesmo alvejado novamente, e, desta vez, à queima-roupa, sobre o joelho.


Igor Buys, 25 de julho de 2010. Texto escrito, originariamente, para a comunidade Armas de Fogo, do Orkut.




O belo Taurus "Raging Judge Ultra-Lite",
de sete câmaras, lançado no SHOT Show 2010:


.38-200 Spl: um “manstopper” de uso permitido

 


As dimensões do cartucho de .38 Spl são bastante latas em relação à quantidade de energia que este calibre normalmente libera. E digo “normalmente” porque todos conhecemos aquelas recargas “quentes” de .38 que, de fato, estão mais para .357 Magnum.
No cartucho de 29.3mm de comprimento do velho .38 S&W Spl, com conhecimento de causa e criatividade suficientes, pode-se caber todos os atributos de um perfeito “manstopper” sem deixar de observar a legislação atual. É claro que obter esse mesmo resultado afrontando o limite de energia previsto no R-105 para armas curtas destinadas à defesa seria muito mais fácil, mas, então, teríamos apenas mais uma recarga “quente” de .38 Spl entre as tantas conhecidas, as quais não podem ser empregadas em defesa pessoal por força de vedação legal e, ainda, apresentam recuo acentuado para principiantes.
Proponho neste artigo o desenvolvimento de um “wildcat” que pode ser considerado um híbrido entre o .38 S&W Spl e o .38-200 governamental britânico, este um calibre surgido no começo do século passado que caiu em desuso. A tal híbrido chamaríamos, pois, de .38-200 Spl.

O .38-200, também designado .380-200, levava estojos de 19.7mm e pontas alongadas que conferiam ao cartucho de munição 31.5mm de comprimento total. Concebido durante um período áureo de buscas por calibres que transferissem bem a energia carregada nos projéteis de modo a lograr alto poder de parada, o .38-200, todavia, falhava em perfurar e em incapacitar por conta de um erro referente ao cômputo da sua força de impacto e perfuração – FIP. Embora os ingleses abraçassem a boa filosofia dos calibres “lentos e pesados”, neste caso, reduziu-se em excesso a velocidade dos projéteis, a fim de mitigar o recuo sentido pelos atiradores. As balas atravessavam a boca do cano a 190m/s: um patamar deveras muito baixo. A FIP obtida não passava, destarte, de parcos 2.47 kg.m/s.

Por outro lado, a idéia de um .357 de 200 grains era muito boa. Um dos paradigamas de excelência em relação a poder de parada (“stopping power”) com que trabalho é dado pelo .45ACP. O Tet.-Cel. fuzileiro naval norte-americano João Cooper, por exemplo, defendia o .45ACP de 230 grains da Hornady, ponta plana, como munição ideal para a defesa pessoal e ele sabia o que dizia. Entrementes, este calibre, primeiro: vem a ser nominalmente restrito no País; segundo: libera energia em quantidade restrita para armas curtas destinadas à defesa; terceiro: tem um recuo relativamente pronunciado para principiantes quando disparado de armas compactas.

O .45 ACP de 230 grains da Hornady alcança velocidade de 250m/s à boca do cano de uma pistola modelo 1911, liberando, para tanto, algo entre 470 e 480 joules de energia [dados a confirmar]. Ora, para manter um grau de excelência em poder de parada com recuo ligeiramente menor, podemos nos perguntar: que quantidade de energia seria necessária para propelir uma ponta de .357 polegadas de diâmetro e 200 grains de massa a 250m/s de um cano de revólver de quatro polegadas?

A resposta, segundo os nossos cálculos, apontaria para algo como 406 Joules: um número que excede o limite de 405 Joules estabelecido no R-105 por um triz. Vê-se que o patamar de energia em questão não é tão exíguo quanto se poderia supor em face das tantas reclamações que se consignam na atualidade: ainda que a legislação não impusesse tal restrição, para este projeto específico, eu não me valeria de mais do que algo entre 405 e 410 Joules. Num próximo artigo, poderemos discutir as bases de um .38 (ou .357) de 230 ou 250 grains para atender às necessidades de usuários seniores, mas, por ora, os parâmetros iniciais de um “manstopper” definitivo, de uso permitido no Brasil e voltado para o perfil do usuário mediano estão perfeitamente delineados, ao meu ver, como se segue.


Para fazer o ajuste dos parâmetros ao disciplinado no R-105, se os meus cálculos preliminares já estiverem corretos, a velocidade inicial, à boca do cano, deve ser de no máximo 249m/s, conforme o quadro.


Primeiras especulações sobre uma munição de .38-200 com Vi de 250m/s
:

Especificações: 13 gramas (200 grains); 250m/s.
FIP = 13 x 250 : 1000
FIP = 3.25 kg.m/s
Energia de, aproximadamente, 406.25 joules
Parâmetros ajustados para atender ao R-105:

Espcificações: 13 gramas (200 grains); 249m/s.
FIP = 13 x 249m/s : 1000
FIP = 3.237 kg.m/s
Energia de, aproximadamente, 403 joules


Quantificada a FIP das munições, podemos comparar o desempenho potencial de uma em relação ao de outra com pontas da mesma espécie de modo muito mais fiel à realidade do que seria possível através de qualquer equação que leve em conta a quantidade de energia ao invés da quantidade de movimento. O mesmo se diga de procedimentos experimentais em gel ou qualquer outro meio artificial de prova. Ponha-se reparo, inclusive, no fato de que o cômputo da quantidade de movimento dos projéteis é parte da equação do "relative stopping power" em todas as suas variantes desde Hatcher. No quadro a seguir, alguns paradigmas comparativos que situam o desempenho potencial dos calibres em questão frente a outros nacionais e importados.


Comparação com outras munições empregadas em defesa / serviço policial:

9x19mm HS Federal (147 grains ou 9.52 gramas)
FIP
= 2.89 kg.m/s

.45 GAP HS Federal (230 grains ou 14.90 gramas)
FIP
= 3.99 kg.m/s

.40 S&W CBC Gold (
155 grains ou 10 gramas)
FIP =
3.64 kg.m/s

.40 S&W CBC Copper (
130 grains ou 8.42 gramas)
FIP =
3.05 kg.m/s

5.56x45mm OTAN SS109 (62 grains ou 4 gramas)
FIP = 3.76 kg.m/s

Levei a debate o desenvolvimento de um .38-200 Spl na nossa comunidade do Orkut, onde o atirador Jorge Wiendl teceu considerações preliminares sobre pressão e propelente. Eu ainda não havia feito a pesquisa sobre propelentes a empregar e, até o momento, continuo sem ter feito, mas este artigo tende a ser atualizado no principal endereço da internet onde será postado, que é o nosso blog ||ARMAS DE FOGO E MUNIÇÕES||.

Eis uma parte da plataforma que Wiendl esboçou, então, a grosso modo:


“Pressão de trabalho: dentro das especificações da SAAMI.

Pólvora: Nacional BS ou mesmo BD que melhor atenda as especificações.

Espoletas: Small Pistol ou Small Pistol Magnum (vai depender do desempenho de cada uma).”

                                                                                          Jorge Wiendl


O policial civil Erick T., de São Paulo, outro fundo conhecedor, mencionou uma recarga de .38 Spl com ponta de 200 grains desenvolvida nos anos oitenta por Zeca Mathias, a qual procurava ser uma cópia do .38 Super Police:



"Nos anos 80 meu amigo Zeca Mathias fez uns testes para a revista Magnum, incluindo recarga para 'snubbies' com projétil de 200 grains - reproduzindo a carga 'Super Police' dos anos 60.

Infelizmente, não tenho mais a revista, mas lembro-me que o recuo dessa carga era brutal...

Possivelmente teríamos algo próximo a um .44 Special com maior penetração, devido ao menor diâmetro do projétil."

                                                                                                          Erick T.


Sobre um estilo especial de projétil para o nosso .38-200 Spl.


O formato alongado do projétil do .38-200 governamental britânico, que irá inspirar o do nosso por força, encerra uma vantagem excepcional num calibre de arma curta: favorece os efeitos de tombamento e fragmentação os quais aumentam de modo assombroso a medida matemática do poder de parada (“stopping power”) aferido em termos hatcherianos puros.

Tombamento e fragmentação são praticamente duas quimeras em balística: os estadunidenses gastaram décadas e vidas em número incerto seguindo os passos de uma “lady luck” chamada 5.56x45mm. Quando os efeitos em questão são observados, o .22 de quatro gramas dos fuzis norte-americanos consegue apresentar níveis deveras interessantes de poder de parada, mas isso só ocorre eventualmente e a distâncias bem menores do que as desejáveis num fuzil.

Os russos, que tiveram no M43 do AK-47, durante toda a Guerra Fria, um calibre marcadamemente superior para uma arma desmesuradamente melhor que os frágeis rifles da família AR-15 / M-16 / M-4, mais uma vez humilharam profundamente a alma e a honra nacionais estadunidenses ao desenvolver pontas de tombamento controlado para o seu 5.45x39mm, nos anos setenta do século passado.

O segredo das pontas do terrível calibre do AK-74, chamadas pelos estadunidenses, desde a Guerra do Afeganistão (1979-1989), de “poison bullets” por conta dos desenhos que descrevem dentro do alvo, está, sobretudo, numa área vazada entre a extremidade do projétil e a camisa que o reveste. Uma vez que sofra deformação plástica quando da interação com o alvo, essa parte dianteira do projétil o guia num trajeto oblíquo em relação à sua trajetória externa: e eis o que vem a ser o efeito de tombamento. A fragmentação, quando ocorre, é decorrente, por sua vez, desse capotar do projétil alongado dentro do alvo mole, meio denso o bastante para rachá-lo e parti-lo.
Conseguir fazer com que a ponta de 200 grains do calibre aqui idealizado tombe controladamente irá conferir ao nosso “manstopper” um desempenho ainda mais potencializado, visto que tal efeito, em nível acentuado o bastante para ser digno de nota, não costuma ocorrer em relação a projéteis curtos de armas de mão ["handguns"]. O revestimento deve ser macio o bastante para evitar picos excessivos de pressão no interior do cano, já que estamos trabalhando com um projétil pesado e de superfície lateral ampla, o que importa em ampla área de atrito com o raiamento.

A minha idéia inicial é a de ter-se uma bala de ponta plana em chumbo não endurecido revestida de uma camisa de latão terminada em ogiva, de modo que surja uma área vazada entre esta e a extremidade chata do núcleo. A área vazada não deve ser mais ampla que o necessário para provocar um trajeto dentro do alvo que seja oblíquo em relação ao eixo da linha de tiro, o que garante um tombamento controlado.

Visão esquemática em corte de um cartucho de munição de 5.45x39mm
Vale ressaltar que os estadunidenses, numa resposta tardia ao 5.45x39mm governamental russo, estão usando, no Oriente Médio, pontas com uma ampla área vazada na extremidade dianteira, o que tem provocado críticas veementes: o projétil do 5.56x45mm SOST explode contra o alvo à maneira de um saco de papel cheio de ar em que se venha a bater com a palma da mão... O resultado é um grande dano superficial ao alvejado que, se imitado por um calibre de uso civil, poderia acarretar uma proibição indesejada. Como ilustração, haja vista a foto seguinte de um animal supostamente atingido por pontas do tipo “match” em que se baseia o 5.56 SOST: