segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Espingardas Benelli M3T ("tatical") e M3 Super 90

 

Este tópico foi sugerido na nossa comunidade do Orkut pelo membro novo Delgado.



As espingardas Benelli M3, calibre 12, são baseadas num sistema de operação patenteado pela empresa e desenvolvido nos anos oitenta para ser empregado primeiro na Benelli M1.

Esse sistema aproveita a massa do transportador do ferrolho, que tende para a inércia, para fazer ciclar o sistema de alimentação e engatilhar a arma quando operada em modo semiauto. O trancamento da cabeça do ferrolho é rotativo e leva dois ressaltos. Duas molas cooperam no movimento: a mola inercial, que age sobre o transportador do ferrolho, retirando-o da inércia, e a mola de recuo, postada na coronha. O sistema é simples, incluindo poucas peças, robusto e de fácil manutenção, o que rendeu ao projeto, que eu saiba até o momento, algum emprego policial em países europeus e adoção por algumas unidades do exército francês.

Para tiros com munição de carga reduzida, não-letal, por exemplo, pode-se alimentar as câmaras dos modelos M3 manualmente ("pump action") graças a outro sistema patenteado pela Benelli.
Sistema de seleção de modos de operação das Benelli M3
(clique sobre a imagem para vê-la ampliada):



A geração seguinte de espingardas semiautomáticas em 12 ga fabricadas pela Benelli, M4 Super 90 e M1012 JSCS, não incorpora mais o sistema de ação descrito, ciclando com ação de gases sobre pistão.


Em termos mais explicativos, o sistema de operação das Benelli M3 funciona da seguinte forma:

1 - com o disparo, a arma recua, mas o transportador do ferrolho tende a ficar inerte no começo do movimento;

2 - a massa do transportador, então, comprime a mola de inércia postada entre o transportador e a cabeça do ferrolho;

3 - comprimida, a mola impele a cabeça do ferrolho para frente e esta gira e avança ligeiramente, destrancando-se do cano;

4 - agora o conjunto está destrancado e a mola de inércia ainda mais tencionada para retirar o transportador da inércia: tem início, assim, o movimento do transportador do ferrolho em direção à culatra. Este movimento corresponde exatamente à manobra manual sobre as telhas que não será necessária aqui: a cápsula vazia é automaticamente ejetada e o percussor engatilhado;

5 - quando o conjunto retorna à posição inicial, impelido pela mola de recuo postada na coronha da arma, a mola de inércia é novamente comprimida, fazendo com que a cabeça do ferrolho avance ligeiramente, girando e trancando-se de novo ao cano. Está encerrado o primeiro ciclo.

Entretanto, esse sistema de ação já existia na Benelli M1 e o que torna a M3 diferente da M1 é tão-só o sistema que se vê na imagem acima: o seletor de modos de ação, que permite ao atirador optar entre a ação semiautomática ou a manual.

Como funciona aquele sistema?

Bem, na foto à esquerda, vê-se a frente da arma com a mola inercial livre para executar o trabalho que tira o transportador do ferrolho da inércia, nos termos descritos acima.

Na foto à direita, a mola aparece comprimida e o transportador trancado à cabeça do ferrolho por fora por um fecho. Com a mola nessa posição, o transportador do ferrolho não tenderá para a inércia, recuando junto com a arma, e será necessária, portanto, a operação manual para ejetar o cartucho vazio e engatilhar a espingarda.



Minha crítica do sistema das espingardas Benelli M1/M3


Gostaria de poder fazer esta crítica com base em algum relato de operadores das armas em questão, mas, a falta disso, vou-me basear em especulação pura.

O sistema é cativante e limpo, executa um movimento complexo, com um trancamento rotativo inclusive, utilizando para isso apenas o recuo da arma e a inércia do transportador.

É possível que o sistema de ação em questão seja até bem confiável quando a arma for operada em posição horizontal em relação ao solo. Entretanto, antes mesmo de testá-la, analisando apenas a sua descrição, fica difícil de acreditar que essa ação possa funcionar a contento com a arma inclinada para disparar de cima para baixo ou de baixo para cima. Num tiro de cima para baixo, a gravidade irá tornar o transportador possivelmente pesado demais para o trabalho e bem assim num tiro ao prato, por exemplo, inclinado para cima. E esse problema tende a se agravar quando a arma não esteja perfeitamente limpa. É claro que uma regulagem para tiro em ângulo inclinado poderia ser tentada, mas isso implicaria em possíveis problemas para o tiro horizontal em relação ao solo.

Embora o exército francês tenha adotado a M3T, o sistema não está passado em julgado e a opção dos norte-americanos pela M4, de operação a gás, que demanda limpeza constante, indica possíveis problemas com a ação por recuo e inércia das Benelli anteriores.


Um comentário:

Delgado disse...

Ótimo artigo, bem informativo. Me interessei muito, pois há tempos estou interessado em adquirir uma Benelli.

Eu fazia parte da comunidade no Orkut, mas desde que ele se extinguiu não tive mais contato com a ótima equipe da comunidade, e só agora localizei este blog. Vejo que a última postagem é de 2010; ainda está em atividade?