domingo, 9 de novembro de 2008

A Baixa Confiabilidade Do Mecanismo Do Ar-15/M-16



Vamos começar a discussão dessa questão pela abordagem das tentativas de solução para os problemas no mecanismo de funcionamento dos fuzis da família AR-15/M-16/M-4 levadas a cabo, recentemente, por várias empresas, como a LWRC e a Barrett. O texto transcrito abaixo é do especialista em armas leves Alexandre Beraldi, que cita a DSA Inc. como umas das primeiras empresas - ou, quiçá, a primeira - a tentar "consertar" os fuzis de assalto dessa família, bebendo em fontes que podem parecer surpreendentes para muitos, como as réplicas dos nossos fuzis FAL e PARAFAL montadas nos EEUU.


transcrição:

"Desde sua introdução, o maior “senão” da família AR-15/M-16 era no tocante ao seu mecanismo de funcionamento. Não que o mesmo não fosse confiável: é, de fato, uma arma bastante confiável, desde que seja rigorosamente e freqüentemente limpa. Ocorre que o fuzil desenhado por Eugene Stoner tem um sistema de tomada de gases que os capta através de um evento próximo a boca do cano e, direcionando-os através de um fino tubo, lança-os sobre o transportador do ferrolho, impulsionando esta peça para trás, fazendo, assim, o mecanismo da arma ciclar. O núcleo deste conceito é que o jato de gases dentro da caixa de culatra expulsaria todos os detritos e impurezas que tivessem adentrado no mecanismo, tais como areia, barro, etc., tornando a arma imune a falhas em ambientes hostis, daí o apelido que a arma recebia: “fuzil autolimpante”. [grifos nossos]

"A idéia funciona até determinado ponto, porém, com o acúmulo dos resíduos de pólvora dentro da caixa de culatra, a arma tende a falhar, pois quando estes resíduos interagem com a umidade presente no ambiente forma-se uma espécie de goma, que fica incrustada no transportador do ferrolho e na cabeça giratória de trancamento deste, impedindo o correto trancamento do conjunto cano-ferrolho, impossibilitando, assim, o disparo. Outra desvantagem é que o sistema não pode ser imerso em água, pois se o fuzil for disparado com água no interior do tubo de gases, a elevada pressão romperia este componente, e o jato de água resultante destruiria a caixa de culatra. Daí o hábito dos US Marines em colocar uma camisinha na boca do cano da arma quando realizam desembarques anfíbios, impedindo a ingestão de água". [grifos nossos]

"Outros Fuzis de Assalto baseiam-se num conceito que, desconsiderando pequenas variações, é o utilizado no mecanismo de funcionamento de armas como o AK-47 e o FAL. Estes utilizam um êmbolo ou pistão posicionado logo após o evento de gases e correndo paralelo ao cano, sendo este êmbolo que recebe o jato de gases em sua face e é lançado para trás, acionando o transportador do ferrolho e fazendo a arma ciclar. Desta maneira os gases resultantes do disparo não entram em contato com as peças móveis do interior da caixa de culatra, mantendo-as limpas e aumentando sua confiabilidade. É um sistema que também tem a vantagem de ser imune a imersões em água, pois não há espaço para o acúmulo de uma quantidade prejudicial de água no sistema de gases e, além disso, há na maioria dos designs um ou mais eventos no cilindro de gases, logo após os primeiros centímetros de curso do pistão, para lançar o excesso de gases, detritos e água de volta à atmosfera [...] [grifos nossos]".

"Voltando às armas, a DSA Inc., que é uma empresa tradicional no mercado norte-americano, é famosa por vender réplicas do nosso conhecido Fuzil de Assalto FAL nas suas mais diversas versões, bem como componentes e acessórios para esta arma oriundos dos mais diversos países, inclusive do Brasil [grifos nossos].

"Há algum tempo a empresa resolveu produzir cópias do AR-15/M-16 para o mercado norte-americano, porém, ciente que já havia diversas empresas que faziam o mesmo e impressionada com o robusto mecanismo do FAL, resolveu incluir em sua arma um diferencial: juntou-se à P.O.F. USA e desenvolveu um sistema de funcionamento para a família AR-15/M-16 baseado no acionamento do transportador do ferrolho com ação dos gases sobre um êmbolo, que deu origem ao Fuzil de Assalto Z4 GTC C.R.O.S (Corrosion Resistant Operating System, ou Sistema de Operação Resistente à Corrosão) que utiliza peças do mecanismo de funcionamento da família AR-15/M-16 melhoradas e com acabamento cromado anti-corrosivo, combinadas com peças que imitam o sistema de gases do FAL, utilizando, inclusive, o regulador de gases desta arma.

"Com isto, eliminou-se uma série de peças problemáticas da família AR-15/M-16 e consertou-se os problemas relacionados aos Fuzis de Assalto M-16, tais como eliminação dos anéis de vedação de gases do transportador do ferrolho que sempre se desalinham, causando vazamento excessivo de gás para o interior do mecanismo; eliminação do tubo de gases e suas conexões, que também apresentam constantes vazamentos; eliminação do acúmulo de pólvora incombusta e da carbonização na cabeça do ferrolho; eliminação do aquecimento do extrator e da mola do extrator devido à descarga de gases quentes no interior do mecanismo, evitando falhas de extração dos cartuchos disparados; e diminuição do recuo percebido pelo atirador".

Alexandre Beraldi
"Fuzil de Assalto: O Panorama Atual"


O AFTN Paulo Gonçalves, que trabalhou durante muitos anos em projeto e fabricação de armamentos junto a uma das melhores equipes de projetistas que já se formou no mundo, a da BERGOM, e me dá a honra de ser moderador da nossa comunidade no orkut, fez naquele fórum o seguinte comentário sobre o texto do Alexandre Beraldi:

"Mago, na realidade isso já seria uma nova arma, né?

"Os problemas do AR-15 são notórios e vêm de muito tempo. A primeira referência significativa que eu me lembro foi em uma batalha no Vietnam em que soldados americanos, isolados por tempo maior, perderam por completo o poder de fogo por falta de possibilidade de manutenção freqüente na arma.

"Na época, a resposta da Colt veio através da colocação de uma catraca para forçar o fechamento do ferrolho, uma solução no mínimo simplória".


Não há dúvida quanto ao fato concreto se estar tentando quase que desesperadamente criar novas armas com o frame do velho AR em que os norte-americanos insistiram teimosamente ao longo de mais de meio século, a despeito de toda lógica e de todos os fracassos observados.

Os fuzis da LWRC ficaram famosos em todo o mundo através da série de TV "Future Weapons" por seus projetistas terem avançado no terreno pantanoso de investir nessa reconstrução do AR. A LWRC chegou a construir armas realmente impressionantes pela aparente e provável robustez aliada à compaticidade e ao emprego do novo calibre 6.8mm SPC Remington. A munição neste calibre libera 2,385 J contra os 1,767 J do 5.56mm (SS 109 FMJ) e as balas pesam 7.5 gramas contra as 4 gramas da munição do AR, fragmentando-se muito menos contra alvos duros.

Nas imagens abaixo, extraídas do site da empresa, vê-se uma análise comparativa esquemática e bastante didática dos mecanismos de funcionamente dos LWRC e dos AR/M-16 tradicionais:

How it Works:

LWRC Legacy Short Stroke Piston

(clique sobre as imagens para vê-las em movimento e ampliadas)

Traditional Direct Impingement





Abaixo, foto do mesmo site: pistão de gases semelhante ao do FAL é desmontado de sobre o cano de fuzil LWRC com o frame do AR:

Um comentário:

LELAO disse...

TIVE UMA INFORMAÇÃO QUE O FAL SOBRE UM COMBATE INTENSO, NÃO É CONFIAVEL,POIS O SISTEMA DE FERROLHO BASCULHANTE FALHA MUITO E NÃO HA CHAVE DE TRANCAMENTO DE FERROLHO.DIZEM QUE O SISTEMA É ULTRAPASSADO E SÓ DO FERROLHO ROTATIVO É QUE PRESTA!