No artigo homônimo deste publicado em 12 de dezembro de 2008, esperávamos poder usar na mesma arma, sem qualquer modificação, duas munições de cargas distintas, levando em conta que o FAL opera com pressões bem superiores à necessária para fazê-lo ciclar e esta é uma das características que garantem a sua esplêndida e decantada robustez.
Hoje, nove meses depois, surgiram vozes divergentes em relação à perspectiva que abrimos, mas ainda não foi testada na arma a carga reduzida proposta. Esta carga seria calibrada para se obter em torno de 2.300 joules, tendo em conta que o 6.8mm SPC Remington libera 2.385 joules e a M43, munição padrão do AK-47, de 7.62x39mm, 2010 joules: estes calibres são paradigmas de altíssimo desempenho em munições de assalto. O teste permitiria saber se a arma limpa deixaria de ciclar com a carga proposta ou se, pelo contrário, operaria normalmente.
Tem muito peso a opinião do engenheiro Paulo Gonçalves no sentido de que seria necessária uma nova arma para trabalhar, alternadamente, com o 7.62x51mm OTAN e com esse 7.62x51mm de carga reduzida e adaptada para CQB de forma a permitir rajadas mais controláveis que as possíveis com a munição padrão e, ainda, como bônus, maior transferência de energia (e maior poder de parada) com menor transfixação dos alvos. Ao mesmo tempo, o parecer sugere, logo de início, a viabilidade técnica do uso intermitente de tais munições numa mesma arma, desde que construída para este fim.
Ademais, a minha interpretação do prognóstico do mestre Paulo Gonçalves, transmitido, inclusive, de modo completamente informal e lacônico num fórum da web, é no sentido de que este aponte para graus de excelência na operação da arma básica das nossas Forças Armadas diante dos quais, para um técnico perfecionista, o improviso e a adaptação seriam tão desnecessários quanto inaceitáveis. Eu continuo convicto de que o FAL limpo irá ciclar perfeitamente bem quando testado com a munição equacionada para combates confinados e a curtas distâncias dentro do parâmetro indicado. Entrementes, num momento em que o País vive uma nova relação com a área de defesa, fazendo investimentos bilionários para o reaparelhamento de duas das nossas Forças Armadas, já não se faz necessário realmente pensar em adaptações tais como as que esboçamos neste blog no ano passado, quer em relação ao FAL, quer em relação, por exemplo, à submetralhadora Ingram Mac-10.
Tendo enfrentado a crise mundial emanada da recessão norte-americana de forma surpreendente para o resto do mundo, o Brasil vem confirmando as previsões que o referem como uma das potências emergentes do bloco batizado de BRIC (sigla para Brasil, Rússia, Índia e China). A China já é a maior potência econômica mundial e a Índia será a segunda em breve, ultrapassando os EEUU. Enquanto que estes dois países, dentro do grupo dos BRICs são precipuamente exportadores de manufaturados e serviços, respectivamente, Brasil e Rússia seriam principalmente produtores de matérias-primas, mas não mais aquela matéria-prima bruta e sim insumos em larga medida beneficiados. Até 2050, o referido bloco de quatro gigantes exercerá hegemonia sobre um mundo multipolarizado, segundo previsões de analistas muito embasados.
Seja como for, é fato que a posição do Brasil atualmente demanda investimentos de vulto na área de defesa, tanto para a manutenção da nossa soberania, como para o incremento do próprio setor de material bélico, dentro do qual já fomos mega-exportadores, devendo este voltar a ser um dos sustentáculos da nossa economia. Conquanto a criatividade brasileira tenha-se tornado mundialmente notória por se ver potencializada ao limite diante do imperativo de ter que administrar a escassez de recursos, doravante será possível pensar soluções na área de defesa que não passem necessariamente pelo condão de "tirar leite das pedras".
Assim, mantendo o ideal de uma atualização do FAL pela via da munição, vamos tratar de sugerir uma modernização da arma em si sem pôr a perder o patrimônio de confiabilidade e credibilidade comercial adquiridos por esta. Manteremos, pois, em termos de massa (peso), cerca de 80% do FAL original e, em termos de número de peças, 50%, o que, em relação ao custo de fabricação, importa uma economia da ordem de 85%, segundo estimativas do nosso amigo Dr. Paulo Gonçalves.
Uma versão “bullpup” do FAL: M009 “Tamacavi”
Dentro das estimativas acima, podemos ter uma versão “bullpup” do FAL capaz de operar seguramente com a munição de 7.62x51mm OTAN para cobertura de fogo, saturação de área e engajamentos a longas distâncias e, intermitentemente, com aquela munição otimizada para CQB a que chamamos no ano passado de 7.62x51mm - P Spl, mas que, hoje, vamos rebatizar de 7.62x51mm CQB Esp.
A provocação para este artigo surgiu com a postagem por um agente federal amigo nosso de um “link” em que se viam fotos de rifles “bullpups” tendo como legenda o comentário lacônico do amigo: “versões ‘bullpup’ do FAL”.
Entre as fotos vistas, a do Kel-Tech RFB era a que mais se aproximava de uma versão “bullpup” do FAL. O RFB, que já foi mencionado neste blog e aparece numa foto acima de um PARAFAL, é um rifle semi-automático em 7.62x51mm, que usa os carregadores da nossa arma básica, copia o seu sistema manual de regulagem de pressão, leva uma armação em polímero e parece bastante balanceado para um “bullpup”, ergômico e estético. A extração é frontal, como a do FN F-2000 e esse detalhe nos interessa em especial.
no mecanismo de extração frontal
À nossa versão “bullpup” do FAL atualizada pela via da munição, ou seja, pensada a partir das munições que deverá calçar, vamos chamar de Tamacavi, reportando-nos à mitologia dos indígenas brasileiros: o Tamacavi, grosseiramente falando, é uma espécie de Hércules amazônico cujos braços são possantes como pernas e as pernas volumosas como tórax, segundo a lenda. Se o rifle fosse construído hoje, talvez o nome código dessa arma destinada a substituir o M964 fosse ser, então, — M009 “Tamacavi”.
A foto do RFB em corte acima fornece, pois, boas referências sobre o que seria o M009 “Tamacavi”. Tomemo-la por base. Vê-se que por trás do gatilho há espaço de sobra para a inserção de um — mecanismo de ação dupla semelhante ao do LAPA FA 03.
O LAPA FA 03, projeto brasileiro de um rifle “bullpup” em 5.56x45mm, traz uma inovação espetacular no mecanismo de disparo: não se precisa destravar e engatilhar a arma para acioná-la, mas apenas destravá-la: a ação dupla do gatilho funciona exatamente como as dos revólveres, é securíssima e propicia uma agilidade de resposta aterradora à arma. Como já comentamos neste blog, o Beretta ARX-160, um fuzil de assalto de quinta geração que deve entrar em uso em 2010 na Itália, possuiria também um sistema de gatilho algo semelhante ao do LAPA FA 03, embora a fonte dessa informação tenha-se perdido...
Com a postura do mecanismo de ação dupla no M009 “Tamacavi”, teremos um rifle compacto, bem manobrável, e robusto ao extremo pronto a operar com agilidade única em situações que demandem a utilização de rifles de assalto. Em tais situações, o militar treinado faria uso da munição 7.62x51mm CQB Esp., podendo efetuar rajadas bem controláveis num calibre com alto poder de parada. Para incremento da função de rifle de assalto do nosso Tamacavi, vamos inserir no projeto, ainda, uma seleção de fogo com três posições: tiros intermitentes, rajadas de três tiros e rajadas.
LAPA FA 03.
O mecanismo de seleção de fogo me parece caber também perfeitamente na imagem em corte do RFB, que persistiria sendo parecida com a do M009 “Tamacavi”. Isso que nós estamos fazendo aqui, sem perder de vista a humildade que nós, simples leigos curiosos devemos manter, é o que se chama — traçar parâmetros iniciais para a construção (e eventual encomenda) de uma arma de fogo. Assim, não precisamos nem podemos saber como construir e montar a arma peça a peça, mas apenas ter uma visão e uma proposta tática sobre como esta deveria ser em linhas gerais e por quê.
Eu sugeriria carregadores translúcidos em material sintético para o Tamacavi, já que a arma é pensada para operar com dois tipos de munições distintas que podem levar pontas de cores diferenciadas para identificação mais rápida e segura.
Sugeriria enfaticamente uma tecla de segurança sobre o gatilho para tornar ainda mais efetiva a utilização do mecanismo de disparo em ação dupla: desta forma, sequer será necessário manter a arma travada o tempo todo, estando o militar fuzileiro sempre pronto para a reação imediata.
A extração frontal é imensamente vantajosa em relação, por exemplo, àquela tosca ejeção lateral de cápsulas que se vê ainda no TAVOR da Taurus/IMI: o já antiquado e limitado TAVOR, se configurado para utilização por usuários destros, não tem como ser operado imediatamente por canhotos, e vice-versa. A reconfiguração do TAVOR para uso por um atirador canhoto demanda desmontar a arma e levar a cabo um procedimento trabalhoso, relativamente complexo e demorado.
Há uma área ampla para a colocação de trilhos do tipo picatinny sobre a caixa de culatra, sobre as telhas e sob o cano à maneira do que se vê no FN Scar. Também à maneira do que se vê no FN Scar, pediríamos canos modulares de dois ou três comprimentos aos construtores: um cano de
FN Scar H com canos de 13”, 16” e 20”.
A doutrina norte-americana sobre o uso tático do FN Scar, quando estiver pronta e divulgada, poderá nos servir de modelo para fazer uso efetivo dessa modularidade de canos prevista já aqui. Um sistema de troca rápida de canos como o do Scar seria, então, bem-vindo no nosso rifle.
Teríamos nesta arma um complexo tático, mais que um simples fuzil. Os acessórios, tais como visores noturnos, miras de visada rápida, holográficas e laser, lança-granadas e lanternas tornariam esse complexo cada vez mais polivalente e insuperável.
Para manter a fidelidade à fabricante do protótipo do FAL, poderíamos tentar equacionar espaço na arma para acoplar o lança-granadas FN40GL, projetado exclusivamente para o FN Scar. Entretanto, inicialmente não me parece que haja espaço para um lança-granadas desse tipo num rifle “bullpup” com cano de
Uma válvula automática de regulagem de pressão semelhante a que se vê no HK G36 utilizado pelas nossas forças especiais, comandos e polícia federal é o ponto-chave para a utilização segura das munições de pressões distintas pensadas para o M009 “Tamacavi”, estando a arma limpa ou muita suja, e isso nós já propusemos há algum tempo atrás.
A munição idealizada 7.62x51mm CQB Esp. traria sobre o 5.56x45mm OTAN a incomensurável vantagem de poder ser usada em combate de selva, sendo dois terços do território nacional recoberto por matas densas. O 5.56x45mm OTAN é inviável no combate de selva porque seus projéteis de apenas
A robustez legendária do FAL deve ser mantida e, diante destes parâmetros, o que mais vier, se não for contraproducente, será um lucro adicional bem-vindo, mas nessa proposta já se tem mais do que o conceito puro de qualquer outro rifle militar de quinta geração pretendeu oferecer de modo chão até o momento. Para ênfase, lembremo-nos de que 50% das peças do FAL original da Imbel são utilizadas nesta arma, representando cerca de 80% do peso total do “bullpup” e uma economia em custos de fabricação da ordem de 85%, segundo estimativa técnica altamente abalizada.
Kel-Tech RFB semi-desmontado.
Um comentário:
A versão bullpup do nosso venerando FAL,dotada de trilhos Piccatiny e capacidade de variados tipos de acessórios, seria uma ótima arma para o EB, seja no calibre 6,8x45mm seja no 7,62. Eu só faria uma pequena modificação não na arma,mas no carregador,transformando-o para quadrifilar para aumentar-lhe a capacidade de munição disponível, pois acho 20 tiros apenas muito pouco para uma arma num campo de batalha
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