quarta-feira, 29 de outubro de 2008

CT 30: Dragão Em Pele De Cordeiro?




A Wikipedia em inglês traz algumas informações sobre a munição .30M1, no verbete sobre a M1 Carbine, que merecem nota especial, à guisa já de introdução para o tema deste tópico.

"The .30 Carbine had a round-nose 110 gr (7.1 g) bullet, in contrast to the spitzer bullet designs found in most full-power rifle cartridges of the day. From the M1 Carbine's 18 in (460 mm) barrel, the .30 Carbine cartridge produced a muzzle velocity of approximately 1,970 ft/s (600 m/s), a velocity between that of contemporary submachine guns (approximately 900 to 1,600 ft/s (300–500 m/s)) and full-power rifles and light machine guns (approximately 2,400 to 2,800 ft/s (700–900 m/s)). For example, the U.S. M3 submachinegun, chambered in .45 ACP, had an MV of 920 ft/s (280 m/s); the British Bren light machine gun in .303 British reached 2,440 ft/s (740 m/s); the M1 Garand firing .30-'06 had an MV of 2,800 ft/s (850 m/s). At the M1 Carbine's maximum listed range of 300 yards (270 m), its bullet has about the same energy as pistol rounds like the 7mm Nambu do at the muzzle. Bullet drop is significant past 200 yards (180 m)." Texto completo: http://en.wikipedia.org/wiki/M1_carbine .

Em contraste, no site das Forjas Taurus em português, apontado com justiça por brasileiros como ruim e desatualizado, consta que a CT 30 dispara projéteis a uma velocidade inicial de 300 m/s:
http://www.taurusarmas.com.br/?on=produtos&in=detalhe&produto_id=45 .

Ora, pergunta-se: qual dos dois sites terá razão?

PRIMEIRA PARTE.



O calibre .30M1 foi desenvolvido no princípio dos anos quarenta, nos EEUU, e toda vez que é mencionado contemporaneamente parece estar associado a um dos temas mais apaixonantes do universo armas e munições: projéteis subsônicos.

Pesado, com 7.1 gramas de massa, a mesma massa do projétil de .357 Mag, o .30M1 se presta bem ao que esse bom artigo linkado abaixo chama “Search For The Ultimate Subsonic Bullet” (“Procura da Bala Subsônica Ideal”).

http://members.shaw.ca/cronhelm/SubsonicBullet.html .


Sucede que os aficcionados pela recarga de munições vêem nessa bala de ponta arredondada uma esperança para os seus anseios de uma munição que, usando menos propelente, torne-se mais acessível em termos de custos e dê conta de matar javalis e “varmint”, pequenos animais que, por serem muito leves, pedem uma pressão considerável para o seu abate a tiros.

Outro ponto interessante daquele mesmo texto da wikipedia em inglês linkado acima é este: “Nevertheless, reports of the carbine's failure to stop enemy soldiers continue to figure in individual after-action reports, postwar evaluations, and service histories of the U.S. Army and Marine Corps. Recent evaluations of the .30 Carbine cartridge indicate it is in fact an effective penetrator”.

Ora, se o .30M1 for um calibre excessivamente transfixante à uma velocidade de 600 m/s, talvez não o seja a 300 m/s, - uma velocidade subsônica. Vamos manter esta premissa em mente e retornar a ela mais adiante.

Munição subsônica tem sido empregada em armas de guerra tão modernas como o VSS (“Vintorez”) russo, em 9x39mm, um calibre que utliza o mesmo estojo do 7.62x39mm do AK-47.

No caso do Vintorez, o objetivo da redução na quantidade de energia cinética dos projéteis é evitar o dito “bum supersônico” produzido por estes ao romperem a barreira do som. Esse ruído associa-se ao da queima do propelente no interior da câmara de combustão para tornar o estampido de algumas armas impossível de abafar suficientemente com a tecnologia conhecida até o momento.

Bem, o .30M1 tem o mesmo diâmetro dos mais poderosos calibres modernos de assalto, o 7.62x51mm OTAN e o 7.62x39mm russo, e, ainda, o mesmo diâmetro de outro interessante cartucho subsônico, o .30 Whisper que, no vídeo abaixo, é utilizado num AR-15 adaptado com abafador.



Entretanto, a excelência das balas subsônicas pode ser encarada a partir de outras facetas além da sua adequação ao uso com abafadores.

Transfixando muito menos do que os supersônicos, os projéteis subsônicos resolvem um dos mais sérios problemas relativos à escolha de munições para uso policial em centros urbanos: o de se atingirem pessoas inocentes com balas extraviadas do alvo, as chamadas “balas perdidas”.


Segundo o artigo acima sobre a “A Busca da Bala Subsônica Ideal”, o .30 M1 subsônico, com carga reduzida, perfuraria bem, a pouca distância, até os mais recentes coletes de kevlar, mas, conforme outras fontes, perderia consideravelmente a energia a cento e cinqüenta metros.

A esta altura, podemos retomar aquela premissa sobre o cartucho de .30M1 preparado como munição subsônica ser menos transfixante que o default. Ora, isso faz pensar numa hipótese interessante sobre o que se lê no site da Taurus a respeito da velocidade incial das balas que deverão sair do cano da CT 30 ser de 300 m/s: será que a arma foi projetada para uso com munição subsônica? Se tiver sido, é possível que nós vejamos o surgimento da referida munição nas prateleiras das lojas em pouco tempo e seria justo que fosse mais acessível em termos de custos,
embora o .30 M1 tenha sido classificado pelo Exército Brasileiro como calibre restrito, há tempos, e o DFPC, mais recentemente, tenha mantido a restrição.

Assim, sem termos sido capazes, até o momento, de responder com certeza à questão levantada no primeiro “post” deste tópico, deixamos no ar essa conjectura como explicação provisória para a possibilidade de que nem a wikipédia nem o site da Taurus tenham errado em relação à MV (“muzzle-velocity”) dos projéteis mencionados por cada qual.


SEGUNDA PARTE.



Eu me lembro de ter ficado fascinado na primeira vez em que vi alguém atirando com um rifle Puma numa lata de tinta vazia a seis metros de distância: a lata não se moveu, causando a impressão de que o atirador tivesse errado o tiro, mas não foi isso que aconteceu.

Sucessede que o projétil no calibre .38 atravessou a lata a uma tal velocidade que não houve qualquer transferência de energia cinética para esta e o objeto permaneceu imóvel, embora tenha sido perfurado de lado a lado, ou “de fora a fora”, como se diz na roça, onde ocorreu esse evento.

Bem, essa alta velocidade supersônica de algumas munições garante uma série de vantagens a estas, como maior alcance e precisão a longa distância, mas, em contrapartida, não havendo transferência de energia cinética para o alvo, não há o chamado “stopping power”.

Um exemplo trágico disso me foi relatado por um policial militar do Rio de Janeiro há alguns anos. Segundo o sargento, em dada ocasião, um cabo PM esvaziou o carregador da sua MT12 num cavalheiro que portava uma .45 ACP e tinha muita cocaína no sangue, de modo que esse cavalheiro não caiu, a despeito dos tiros supersônicos que recebeu e ainda matou o cabo com um único tiro de pistola. Em seguida, esse mesmo cavalheiro atirou no sargento que estava na cobertura; o projétil passou de raspão, chegando a queimar a farda deste que, então, deu a volta por trás do Golf do toxicômano engatinhando para conseguir matá-lo.

Ora, qual a vantagem do .45 ACP sobre o 9mm PARA da MT12 na situação descrita?

Resposta: o .45 ACP é um poderoso calibre criado pelo projetista norte-americano John Browning no princípio do século XX. O projétil deste calibre pesa 15 gramas e é propelido a uma velocidade subsônica de 260 m/s, sendo muito pouco transfixante, uma vez que transfere toda a energia que carrega para o alvo.


Como o .30M1 é também um calibre altamente penetrante no default, seria talvez muito oportuno que pudesse ser fabricado numa versão subsônica para a CT 30, isso garantiria, possivelmente, um maior poder de parada.

Teste da CT 30 feito por um policial civil de São Paulo:






Nas Ingram MAC 10 e 11 é utilizado o calibre .380 Auto, ou 9mm “Corto” (curto) porque estas são pistolas-metralhadoras em “blowback”, não possuindo sistema de trancamento do ferrolho, o que simplifica a sua fabricação e as torna, inclusive, menos onerosas. Entrementes, o 9mm curto funcionou bem nestas armas aterradoras outrossim porque, sendo disparado de uma destas em situações análogas a do incidente policial descrito acima, a muito pouca distância do alvo, este calibre subsônico (massa entre 5,5 g e 6,2 g, velocidade entre 275 e 305 m/s e alcance efetivo de apenas 25 m), teria possivelmente causado maior transferência de energia àquele cavalheiro, derrubando-o. Ou seja, é possível que um calibre tenha melhor desempenho em CQB, usando menos propelente, conquanto isso possa soar estranho num primeiro momento para muitos.

Espera-se que a CT 30 possa oferecer um bom rendimento, se utilizada com a munição ideal de modo a resolver essa questão sobre baixo poder de parada e, ainda, evitar incidentes envolvendo mortes de inocentes por transfixação ou bala perdida do alvo à longa distância, o que virá a provar que a arma realmente é um “dragão em pele de cordeiro”.

Um comentário:

Unknown disse...

Prezado Sr Igor,

Cordiais Saudaçoes Armamentistas.

Quero parabeniza-lo pelo blog q eu ainda ñ conhecia, a despeito de ser eu um fanatico por essas maravilhosas e fascinantes ferramentas e muniçoes modernas, notadamente as de emprego militar e policial.

Vim parar neste sítio aa procura de informações sobre a muniçao .30 utilizada na carabina 30M1 e deparei-me c/ mt + do q esperava.

Ainda q ñ tenha encontrado especificamente os esclarecimentos especificos q buscava, fiquei surpreso c/ a qtd de informaçoes, a qualidade do conteudo e a clareza e inteligibilidade dos txt.

Receba meus votos de saudavel e longa vida e de mt disposiçao p/ continuar este excelente trabalho instrutivo.

C/ grd respeito e admiração, sou

Joao L Apocalypse
Atirador - SFPC4RM