Num fórum onde predominam militares, alguém deu essa interessante resposta seguinte à proposta deste blog de Uma Atualização Do FAL Pela Via Da Munição:
"O que ele propôs é algo similar ao cartucho padronizado pelo Japão, que usa um modelo embasado no Nato 7,62mm/51 com propelente menos potente, mas as armas são especialmente projetadas para ele.
Pepê"
Bem, se, e apenas se, forem necessárias modificações no projeto das armas por construir, fato que não está provado, já que o FAL opera a pressões muito superiores às necessárias para fazer a arma ciclar, estas seriam modificações ainda assim muito simples.
Uma possibilidade a ser discutida é a oferecida por aquela válvula reguladora de pressão que o fuzil G36 leva no pistão sobre o evento de tomada de gases. Mesmo que o sistema em questão esteja protegido por patente, ainda assim pode servir de base a uma adaptação, sem dúvida. Apenas especulando, vale comentar que essa referida válvula me faz pensar em válvulas reguladoras de escape, por exemplo...
Quanto à idéia da mola recuperadora de dois estágios, que tem estado em debate entre nós na comunidade deste blog no orkut há alguns meses, a resposta que obtive de um engenheiro especialista em construção de armas foi no sentido de que essa providência tornaria, provavelmente, a arma mais sensível ao emprego facultativo de munições com pressões diferentes. Entretanto, o engenheiro considera que o tema mereça testes e pesquisas.
Um propelente de queima mais rápida, garantindo um melhor aproveitamento da expansão dos gases, inclusive em canos curtos, de 11 ou de 13 polegadas, também conflui para garantir um nível ideal de pressão no sistema.
É curioso que quando se fale em reduzir a carga de propelente no interior do estojo, isto preocupe a alguns em uma medida quiçá excessiva, ao passo em que a redução do comprimento cano e conseqüente mudança na posição do evento de gases, que é, de fato, muito mais drástica em relação à pressão interna do sistema na extensão em que é feita, incoerentemente, não cause a ninguém inquietação do mesmo grau.
A chama que é observada se expandindo da boca do cano das armas de fogo corresponde ao desperdício de energia decorrente da queima do propelente já fora do sistema. Os quebra-chamas disfarçam em parte este efeito que, não obstante, é bastante evidente.
Fotos flagrando o grau de desperdício de energia observado nessa arma algo patética que é a pistola Desert Eagle, de fabricação israelense, com a queima do propelente já fora do cano e na base de um metro ou mais de distância da boca:
O aproveitamento incompleto da força de expansão dos gases nas carabinas em 5.56x45mm foi fatídico nos teatros de operações, em tempo recente. Ficou demonstrado na prática que fuzis de assalto não podem ser construídos em 5.56x45mm e, concomitantemente, dentro das dimensões que se consideram ideais hodiernamente, com canos de 10.5 polegadas, por exemplo.
Em oposição, supõe-se que o calibre 7.62x51mm “standard” possa ser disparado de canos com esse mesmo comprimento sem tanta perda no seu desempenho, e espera-se que o nosso 7.62x51mm -P Spl, liberando poderosos 2.300 / 2.400 joules de energia, aproximadamente, com pontas mais leves que a padrão, de 7.5 /
Propelentes de Queima Rápida.
Até aqui, falamos sobre a redução da quantidade de propelente nos estojos de 7.62x51mm, sem mencionarmos mudanças na qualidade da pólvora.
Muito poucos entre os nossos colegas aficionados por armas de fogo, no que se incluem os militares, sabem equacionar este fator: qualidade de propelente.
Ora, apenas mantenha-se em mente que a queima mais rápida do propelente evitará o desperdício da força de expansão dos gases usada tanto na propulsão do projétil, quanto para fazer o sistema principal das armas automáticas e semi-automáticas ciclar.
Quanto mais próximo da boca do cano esteja posicionado o evento de gases, maior será o aproveitamento da queima do propelente para gerar pressão no sistema; entretanto, se a queima dos gases ocorre numa parcela muito grande fora do cano, esta providência arquitetônica pode se tornar insuficiente para garantir a pressão necessária sobre o pistão de uma arma operada a gás.
A queima do propelente melhor aproveitada, ou aproveitada quase até o final, quase dentro da sua integralidade, através do uso de uma “pólvora rápida” pode confluir com uma válvula de pressão "inteligente" para nos dar tudo o que queremos: desempenho ideal do projétil e, outrossim, pressão ideal no sistema dentro das novas condições pensadas.
Uma Munição de 7.62x51mm Spl Subsônica
Ao pensarmos uma munição 7.62x51mm -P Spl, nos ocorreu primeiro a redução da massa do projétil para aproveitar a relação peso—energia observada na munição de 6.8x43mmSPC Remington.
Entrementes, falamos também de uma munição 7.62x51mm -P Spl Subsônica no tópico Uma Atualização do FAL Pela Via da Munição. Esta haveria de ter como referência inicial para estudos a SP-6 do VSS-Vintorez.
A SP-6 leva projéteis pesados de 16 gramas. Isto nos remete ao tópico sobre a CT-30 / munições subsônicas pesadas e “lentas”.
Sucede que a saída do projétil pelo bocal acarreta na desobstrução do cano e conseqüente queda total na pressão interna do sistema. Ora, projéteis mais pesados, como o da SP-6, se deslocam a uma velocidade inferior àquela que ocasiona a quebra da dita “barreira do som”: 343 m/2. Ou seja: tais projéteis levam entre três e quatro vezes mais tempo para desobstruir a boca do cano do que aqueles que se deslocam a 900 m/s, por exemplo. Isto acarreta um melhor aproveitamento da energia dos gases, retardando a sua expansão prematura para fora da boca do cano, enquanto a queima total ainda não ocorreu.
Assim, se o peso do projétil está na razão inversa da sua velocidade de deslocamento, está, por outro lado, na razão direta do melhor aproveitamento da pressão de expansão dos gases para a ciclagem do sistema.
A munição 7.62x51mm -P Spl Subsônica pode ser, destarte, a de melhor rendimento geral entre todas as que já idealizamos até aqui, inclusive no que concerne a garantir níveis ideais de pressão dentro do cilindro de gases.
Vale lembrar, para finalizar, que a munição SP-6, como já foi comentado no tópico Uma Atualização do FAL Pela Via da Munição, é capaz de perfurar uma proteção corporal de 6 mm de aço mais 2.8mm de titânio e 30 (trinta) camadas de kevlar a 200 metros e, no emprego antimaterial, transfixar 2 mm de aço a 500 metros.
Abraços e feliz 2009.
..........
FEEDBACK
O engenheiro Paulo Gonçalvez, especialista em construção de armas que integrou a equipe da BERGOM e atualmente é AFTN estimou que a construção de uma nova arma brasileira baseada no FAL, com o maior número possível de peças solidárias e permutáveis, capaz de disparar em 7.62 OTAN e, facultativamente, em um calibre de 7.62x51mm e potência intermediária, com uma regulagem automática de pressão, custaria em torno de 3.5 USD milhões:
"Pense apenas que seria uma nova arma, um novo projeto, com base no antigo FAL. É um projeto para uns 5/6 meses a um custo de uns 3.5 USD milhões".
Mais tarde, quando eu perguntei se essa estimativa incluia ferramental, complementou:
"Igor,
Esse é um preço "básico" internacional de um projeto de uma arma como essa, com sistema de trancamento.
Calibres alternativos em um mesmo projeto básico tem normalmente seu preço calculado em um acrescimo percentual disso.
É dificil te passar assim por e-mail. São contratos grandes em que se envolve inclusive as patentes, se transferidas, se licenciadas, prazos etc.
Nesse preço está incluído normalmente uma pré-série de umas 10 unidades, já exaustivamente testadas, no caso do Brasil, inclusive com o teste do EB na Restinga de Marambaia.
Nesse tipo de preço nada está incluído de ferramental de fabricação. Entrega-se o projeto, os protótipos, os planos de fabricação e inclui-se assistência técnica e transferência de tecnologia da fabricação da específica arma, com acompanhamento normalmente de 12 meses após a implantação, que, dependendo de onde seja, pode demorar outros 24/36 meses".
Esses investimentos retornam com a venda de algumas dezenas de milhares de unidades.
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