Antes de mais nada, vamos entender melhor como funcionam munições com sabot.
Sabot é uma palavra de origem francesa que, em projetos de munições especiais que levam núcleos de material muito duro, aço, tungstênio e etc, chamados “penetrators” ou flechettes, designam bases destinadas a preencher o gap – o espaço vazio – entre os referidos núcleos e o raiamento do cano.
Os sabots são construídos, amiúde, em plástico leve ou em alumínio.
Há, pelo menos, três tipos básicos de sabots quanto à forma e funcionamento que podem ser utilizados em munições de fuzis, a saber:
- "Cup sabots" (sabots em concha), são aqueles que suportam o núcleo até a boca do cano, ganhando velocidade e transmitindo o movimento giratório provocado pelas raias ao “penetrator” para, em seguida, separar-se deste, quando encontram a resistência do ar atmosférico;
- Sabots em concha expansivos (“expanding cup sabots”), são aqueles que, exercendo a mesma função dos anteriores, se expandem após deixarem a boca do cano, liberando os núcleos perfurantes;
- "Base sabots", supostamente os melhores e mais caros, são aqueles que possuem uma peça na base, a qual suporta a ponta interna do “penetrator”, e peças separadas que o envolvem lateralmente e atritam com o raiamento, separando-se entre si e liberando o núcleo perfurante após deixarem a boca do cano.
Ilustração mostrando um esquema do funcionamento desses três tipos de sabots:
A munição VBR-Belgium 9mmP AP parece levar um sabot em anel ("ring sabot") que não se separa do “penetrator” antes do impacto contra o alvo. No vídeo de demonstração, vimos os núcleos dessa munição transfixarem coletes de configuração CRISAT e superior junto com o sabot, que só se separou daquele no interior da gelatina, alargando ainda mais a cavidade permanente. Esta conjugação de funções garantiria uma munição de impacto em calibre 9mmP com um núcleo em calibre menor altamente perfurante. O conjunto todo se torna altamente perfurante porque a ponta em aço, que não sofre deformação, abre a cavidade por onde o sabot acaba penetrando também.
Print em que se vê o sabot alojado na gelatina junto dos "penetrators":
Print mostrando como o sabot e o "penetrator" desta munição alojam-se na gelatina, agindo como dois projéteis em um e provocando cavidades permanentes distintas:
Como já havíamos proposto no tópico Uma Atualização do FAL Pela Via Da Munição, a cópia e subseqüente aperfeiçoamento do que já existe de melhor é um método pragmaticamente seguro de se obter êxito em espaços curtos de tempo.
A nossa munição idealizada para o PARAFAL empregado na função de fuzil de assalto, a que chamamos aqui 7.62x51mm AP -P (ou, facultativamente, 7.62x51mm AP Spl) utilizaria, preferencialmente, pontas deste último tipo, a um só tempo altamente perfurantes e com alto poder de parada.
Sobre a redução na carga de propelente dentro do cartucho padrão de 7.62x51mm OTAN, já tecemos considerações a parte no tópico Uma Munição 7.62X51mm -P Spl, de potência intermediária.
Uma segunda versão de cartuchos especiais que advogamos para a atualização do FAL pela via da munição seria o 7.62x51mm AP plena, com o mesmo tipo de ponta aqui discutido e a carga plena do calibre 7.62mm OTAN.
O FAL pode suportar pressões mais elevadas que a da munição “standard”, devendo-se para isto, regular a pressão do sistema na tecla giratória até a posição “GR”, de lançamento de granadas de bocal. Destarte, é possível pensar-se em uma munição 7.62x51mm AP +P+, com a carga de propelente potencializada pela quantidade e/ou pela qualidade. Esta munição, serviria, sobretudo à função “sniper” do FAL e do FAP, aproveitando as características de um sabot do tipo “expanding cup” ou “base sabot”, vistos acima, e ainda um “penetrator” ou flechette alongado para maior dano interno ao alvo. Uma munição com esta configuração teria um alcance muito longo a ser provado, quiçá, próximo ao alcance efetivo do calibre .338 Lapua Magnum "standard" ou até superior - estimativa esta que depende de mais alguma pesquisa bibliográfica para se tornar menos especulativa.
Foto de uma munição AP de rifle com sabot em material plástico do tipo "expanding cup" fabricada pela Remington.
Um diâmetro de “penetrator” a ser considerado nas três variações de munição idealizadas seria 5.56 ou 5.7mm.
Há uma larga gama de estudos já feitos em relação à ação de balas com esse diâmetro em alvos moles e, tanto política quanto financeiramente, não abandonar de todo os projéteis em 5.56mm da OTAN pode ser lucrativo. Teríamos, assim, uma munição conjugada, quase híbrida, com sabots de 7.62mm e núcleos de 5.56mm capazes de serem disparadas da nossa arma básica padrão sem qualquer alteração necessária nesta.
Isto importaria num “upgrade” descomunal para o FAL e para o PARAFAl capaz até de incomodar a todos os que têm interesses financeiros envolvidos na bravata de substituir o nosso primoroso fuzil de assalto/MBR por armas insólitas em 5.56x45mm.
Todavia, este é a proposta consciente de um brasileiro... e não de um vendedor.
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