Num tópico anterior, abordamos as submetralhadoras de última geração que estão susbstituindo fuzis de assalto por todo o mundo. Mencionamos naquele tópico a HK MP7A1, a B&T MP9 e, para ilustração, o projeto chamado VBR PDW Sidearm. Estas submetralhadoras podem ser levadas no coldre de cinturão, como “sidearms”; operam em regime semi-auto e full auto. Dentro deste sub-grupo, aquelas que usam calibres especiais para perfurar blindagens têm ainda alcance e precisão de fuzis de assalto obtidos através de canos muito curtos e ideias para CQB.
Num tópico seguinte, enfocamos em separado a PP-2000 e a Vityaz PP-19-01, as supersubmetralhadoras russas que já sub-rogaram respectivamente a lendária pistola Makarov e o fuzil de assalto Kalashnikov AKS-74U em 5.45x39mm entre as polícias do seu país de origem. Vimos que, afora a simplicidade e rusticidade dos projetos, o que torna estas armas tão especiais é, realmente, a qualidade das muniçõe 9x19mm 7N31 +P+ e 9x19mm 7N21 +P+, a primeira do tipo “armor piercing”. Essas munições perfuram proteções balísticas e garantem às submetralhadoras russas alcance e precisão de fuzil de assalto no calibre 9x19mm, com muito maior poder de parada que o 4.6x30mm da supracitada MP7A1, ou o 5.7x28mm da FN P90.
Bem, as submetralhadoras JS (Jian She) e aquela que é chamada tão-só de “Tipo 05”, de fabricação chinesa, são também submetralhadoras de última geração e, assim como as russas, operam em sistema “blowback”. É curioso que potências econômicas como a China e a Rússia se preocupem em adotar projetos de armamentos de baixo custo de fabricação – que operam em “blowback” –, enquanto países em desenvolvimento optam freqüentemente pela fabricação de armas básicas caras, e, o que é realmente muito pior, se dignam a importar equipamentos alienígenas sem peças de reposição fabricadas no país importador – um aborto logístico – e por preços que ofendem o bom senso e qualquer noção insipiente que seja de Arte da Guerra.
A JS e a 05 são submetralhadoras em configuração “bullpup” e levam uma tecla de segurança na face posterior do cabo para evitar incidentes de tiro. O defeito básico que o sistema “blowback” apresentava no passado e que consistia no superaquecimento do conjunto câmara—cano ao ponto de ocasionar o fenômeno conhecido como “cook off”, ou ignição “espontânea” da munição, foi corrigido pela incorporação no projeto da operação com ferrolho aberto.
Na versão policial, ou simplesmente mais moderna apresentada pelo site Modern Firearms vê-se uma superfíce vertical de manobra formada por um alongamento da parte dianteira do guarda-mato e a substituição da alça contínua ao frame por trilhos do tipo picatinny para acoplar acessórios.
A submetralhadora “Tipo 05” calça a munição especial no calibre 5.8x21mm DAP92-5.8, com pontas do tipo “armor piercing”. Esta munição apresenta alto poder de penetração e baixo poder de parada, e permite alcance efetivo entre 150 e 200 metros com o cano padrão da arma. Na 05 usam-se carregadores de 50 munições. Já a JS calça o calibre 9x19mm Parabellum, “standard” ou especial, tem um alcance efetivo estimado entre 100 e 150 metros para as munições “standard” e usa carregadores de 30 munições. Os comprimentos de canos que permitem esses alcances estão ainda sonegados de nós. As sub pesam, respectivamente, 2.2 e 2.1 quilos vazias.
O Steyr AUG é um dos poucos rifles de assalto “bullpup” de terceira geração, a qual influência diretamente esta quarta geração de submetralhadoras, que foi visto utilizando munições de 9x19mm Parabellum, não obstante todos os projetos desse período incorporavam uma relativa intercambialidade de calibres prevista já no início das pesquisas que levaram ao seu desenvolvimento.
O Brasil também possui um projeto de submetralhadora / fuzil de assalto em configuração “bullpup” que opera a gás, com trancamento rotativo do ferrolho, e tem no seu desenho inicial essa intercambialidade de calibres prevista com características gerais muito semelhantes às da JS e da “Tipo 05”. Falamos da LAPA FA 03, que leva a assinatura do famoso projetista brasileiro de armas Nelmo Suzano, o qual trabalhava ao lado de uma equipe à altura do seu brilho. O sistema de operação referido é o mais confiável e rústico entre todos aqueles que são usualmente compilados de armas clássicas para dar origem aos novos fuzis de assalto de quarta geração que têm aparecido no mercado, sendo análogo, por exemplo, ao do G36.
O frame do LAPA é construído em material plástico leve. Com o tamanho integral dimensionado para a sua aplicação como fuzil de assalto, a arma media 738mm, com canos de 490mm, e pesava 3.5 quilos vazia. Consultando um membro da extinta equipe da BERGOM, tive ratificada a certeza de que o rifle pode ter cano e culatra reduzidos e calçar, numa versão atualizada do projeto, o calibre 9x19mm, com a possibilidade de usar munições especiais de alto rendimento.
Foto rara da LAPA FA 03 que não pode ser encontrada na internet até esta data, exceto aqui neste blog - clique sobre a imagem para vê-la ampliada:
A LAPA FA 03 tem uma poderosa cadência de 600 tiros/minuto. O gatilho da submetralhadora / fuzil de assalto atua em ação dupla no modo semi-auto e é um dos marcos projeto, tendo raríssimos paralelos na índústria bélica, entre os quais, um projeto da Beretta ainda em fase de protótipo, o ARX-160, - um fuzil de assalto de quinta geração, que apenas peca pelo calibre insólito. O nosso LAPA FA 03 leva, ainda, carregadadores stanag, intercambiáveis com os do M-16.
Ocioso voltar a destacar que uma arma de projeto e fabricação nacionais, com todas as peças de reposição igualmente manufaturadas no País e de alta efiência é o que de melhor se pode desejar para suprir as nossas forças policias, elevando a qualidade da segurança pública nos Estados.
Pelo que eu entendi da curta resposta que recebi de um engenheiro da extinta equipe de projetistas da LAPA FA 03, havia uma versão em “blowback”, de baixos custos de fabricação, no calibre .22LR, pensada para civis, com carregadores de 10 munições, já esboçada. Palavras dele:
“A LAPA, por exemplo, tinha base de projeto até para uma versão civil em 22LR, com 10 cartuchos (semiauto) e culatra levinha trabalhando por inércia (blowback).
Abraço” - Paulo Gonçalves
Uma versão desta arma, sobretudo, em “blowback”, no calibre 9mmP, com as dimensões de cano e culatra adaptadas para o emprego contemporâneo em CQB tornaria o projeto comparável em larga medida ao da JS 9mmP, que, por sua vez, tem sido muito exportada pelos chineses.
Assim, a LAPA FA 03 é uma opção atualíssima de arma de assalto, inteiramente viável em termos orçamentários, tecnológicos e logísticos. A arma chegou a ser demandada e adotoda por unidades de forças especiais do EB, mas foram fabricadas e entregues apenas algo em torno de 500 unidades, antes do desaparecimento da empresa responsável.
Boas Entradas.
Fuzil de assalto de 5a. geração Beretta ARX-160, que usa o mesmo
tipo de sistema de gatilho que o nosso visionário LAPA FA 03.
2 comentários:
A história do LAPA, assim como a de muitos projetos da indústria bélica nacional, me trazem tanta tristeza...
Os governos tucanos da época pregavam um Estado Mínimo, tão mínimo que as empresas que desenvolviam tecnologia foram superadas pela política de exportações de FHC. Deixamos de ser o terceiro maior exportador de armas do mundo pra sermos inexpressíveis no campo.
Creio que agora esta realidade esteja mudando, com a nova política do governo do PT que ta trazendo tecnologia transferida pras empresas daqui. Coisa boa.
Valeu!
Ah sim, obrigado pela foto do LAPA. Nunca tinha visto assim, tão de perto! Hhehhe
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