O revólver Taurus Judge é uma arma cativante. Fabricado em liga especial de alumínio, com um gatilho levíssimo e mira de fibra ótica, essa arma vem a ser o resultado final de experiências iniciadas durante a Guerra do Vietnã, que, por seu turno, tinham precedentes nas munições de cartuchos de bagos para revólveres usadas nas zonas rurais.
Entretanto, é no Taurus Judge que essa associação do cartucho de caça com a arma de mão de defesa pessoal mais básica e segura que existe, o revólver, encontra um grau de aperfeiçoamento e elegância realmente notáveis. Falta ao projeto, ainda assim, uma munição a sua altura. Mesmo o .410 Magnum usado no BFR (“Biggest, Finest Revolver”), ao meu ver, parece deixar algo a desejar, como uma lacuna: o cartucho ideal ainda foge ao encontro dessa arma que já descobriu seu calibre de excelência. Enfim: falta uma munição especial fabricada no Brasil para o rv. Taurus Judge.
Em CQB, são fundamentais os cartuchos de projéteis múltiplos, e dentro dos rumos atuais dos entreveros em espaços confinados, com homens vestindo blindagens corporais, a munição de flechettes há de ser resgatada e renovada para ter um importante papel a desempenhar ainda. São dominantes entre os cartuchos de projéteis múltiplos na área de defesa pessoal o 12ga e o .410, sendo estes os dois calibres utilizados na espingarda russa Saiga, baseada no AK-47 e, a princípio, semi-automática.
O Judge calça, além do .410, facultativamente, o .45 Colt, um calibre interessante para colecionadores de réplicas funcionais e para quem quiser adquirir os estojos e fazer recargas. Pode ser usada no Judge, ademais, munição .45 ACP com “moonclips”: a Taurus, inclusive, fabrica um clip para o revólver Tracker em .45 ACP, de cinco câmaras, que deve servir para o Judge.
Como eu não conheço munição flechette no calibre .410, mas a CBC fabrica cartuchos com estojo de metal nesse calibre, vamos registrar aqui uma “receita” caseira de recarga especial para o RT Judge baseada nos princípios da munição com projéteis cinéticos em forma de dardos. Veja que delinear essa dita “receita” não significa orientar alguém a utilizá-la hoje; mas quem sabe se algum dia ainda não será necessário que os patriotas brasileiros defendam as suas casas, as suas famílias e o seu País contra invasores estrangeiros, lançando mão de tudo aquilo que puderem encontrar nas suas dispensas e pequenos arsenais domésticos? Ora, todo país do mundo se previne contra esse tipo de risco a sua soberania e, como dizem os “hackers” na sua retórica básica, o conhecimento em si de algo não constitui crime algum. Assim, não experimente esta receita, apenas tome ciência de algo que pode teoricamente ser feito: estamos trabalhando aqui no plano da conjectura.
Bem, os dardos acomodam-se dentro do cartucho de 12ga flechette – que, repetindo, tem o mesmo comprimento do .410, ou seja, três polegadas – uns com as pontas mais perfurantes para fora, outros com essas pontas para dentro, conforme a foto abaixo.
Vamos usar pregos grandes, de duas polegadas e meia. Cortaremos as cabeças dos pregos e mais três quintos das suas hastes com um alicate de corte, reduzindo-os a “kinetic energy penetrators” de uma polegada, ou 2.54cm de comprimento.
Em seguida, juntemo-los, uns com as pontas mais perfurantes voltadas para cima, outros com essas pontas para baixo, fazendo uso de fita isolante para fixar os projéteis nesta posição. Basta uma camada da fita adesiva, ou seja, uma volta completa e mais uns dois milímetros para fechar o anel que irá manter os pregos unidos e bem alinhados e, em seguida, envolva-se o conjunto em papel laminado.
O papel laminado pode envolver o balote de pregos em mais de uma camada até este entrar justo no estojo sobre a bucha e a pólvora. Não há uma regularidade precisa no diâmetro dos pregos de duas polegadas e meia. Faremos a selagem desse nosso balote cinético frangível, dobrando o papel laminado como se dobra o papel de um bombom, depois cortando os excessos e achatando tudo pela fricção das extremidades na bancada. Antes, porém, de selar a segunda extremidade, adicionaremos entre os “penetrators”, para uni-los melhor, um pouco de cola de bastão com uma pistola térmica dessas que se compra nas papelarias. Está pronto o nosso projétil frangível.
Sugiro um propelente de queima rápida para os tamanhos de cano do Taurus Judge; entre as pólvoras nacionais, a 216 da CBC, entre todas as que puderem ser achadas, a AA2 ou qualquer outra similar. Use buchas de fábrica e faça a selagem do cartucho da forma que estiver habituado.
Bem, agora, para finalizar, em homenagem aos nossos vizinhos da América do Norte, terra do inventor do revólver, segundo uma das versões correntes da História do revólver, vamos apenas dar um nome em inglês a esta nossa receita caseira de munição. Tendo em conta a época do ano em que nos achamos e o uso de papel laminado para envolver o núcleo, decidi chamar à receita de “Brazilian's Christmas Turkey” (BCT).
Nas fotos abaixo, 12ga flechette versus gelatina balística. Clique sobre as imagens para vê-las ampliadas.
Quando o balote deixar o cano do Judge incandescente, a fita adesiva no interior da BCT vai -se ter dissolvido por completo junto com a cola de bastão; o papel vai estar se abrindo e os pregos rubros vão estar se separando em um cone de base cada vez mais ampla em direção ao alvo. Dentro do cano, o balote deve-se manter coeso, para que o papel laminado possa evitar dano excessivo à arma. Veja que em canos de alma lisa, como o do Judge vendido no Brasil, é possível usar munição de flechettes sem danificar a arma, coisa que se torna mais difícil na versão do mesmo revólver vendida nos EEUU, com cano raiado.
Opte pelo RT Judge com cano de três polegadas e alma lisa. Eu prefiro o acabamento oxidado fosco e acho que uma boa “red dot” de visor aberto pode cair muito bem na arma.
A certa distância, esses dardos vão começar a girar como facas quando se as atira de ponta. Porém, dentro do raio de dois ou três metros, que é onde uma arma como o Judge se torna realmente mais interessante, permitindo um saque rápido e uma visada instantânea com a margem de inexatidão corrigida pela expansão do balote no ar em diversos projéteis, estes talvez ainda estejam com as pontas viradas diretamente para o alvo ao atingi-lo. Nem sempre se tem espaço disponível para fazer uma empunhadura completa e o tiro de defesa acaba sendo dado de posição contrafeita.
Poderíamos, facultativamente, acomodar os pregos no balote frangível com as extremidades mais perfurantes todas voltadas para frente, mas as extremidades cortadas com alicate de corte também serão bastante perfurantes. Classifico esse balote como frangível inclusive porque, dependendo da distância, pode atingir o alvo ainda coeso e só então se fragmentar. Não há regularidade perfeita em relação à cola e a fita isolante, mas a temperatura de queima do propelente em expansão tende a derreter esses dois componentes instantaneamente.
Uma carga bem “quente”, sem se chegar a absurdos, conferiria uma excelente performance aos dardos. Acho que esta nossa “receita” de munição recarregada caseira, inclusive, pode funcionar até melhor, em certos aspectos, e dentro da sua aplicação, que a munição de fábrica em 12ga flechette que se vê na foto acima. Vamos esperar que a indústria nacional de munições desenvolva cartuchos especiais com flechettes para um revólver Judge tático a ser cogitado.
Feliz Natal.
Mais informações sobre o Taurus Judge em inglês no site Gunblast.
Na foto, outro tipo de flechettes: em lâminas. Essa munição também poderia ter uma análoga caseira confeccionada a partir de gilettes quebradas. A munição SCMITR foi desenvolvida pela AAI Corporation, durante a Guerra do Vietnã:
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Uma Munição Especial Para o Taurus Judge
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Um comentário:
Caro Srs .
Adquiri uma arma desta em 6 Pol. me arrependi e muito pois os cartuchos não saem após o disparo, tenho que tira los com uma chave de fenda um a um.
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